Idosos de instituição de São Vicente aceitam desafio e plantam os alimentos que consomem

Eles se sentem produtivos ao trabalhar no plantio sustentável, e cuidam a horta sem uso de agrotóxicos

Por: Rosana Rife  -  26/10/21  -  16:11
 Idosos da casa Vovó Walkiria trabalham no plantio de alimentos que consumirão, sem agrotóxicos e mais frescos
Idosos da casa Vovó Walkiria trabalham no plantio de alimentos que consumirão, sem agrotóxicos e mais frescos   Foto: Matheus Tagé/AT

Montar uma horta sustentável. A ideia não saía da cabeça do estudante Guilherme de Almeida Ramos, de 21 anos. Ele faz parte do grupo de Escoteiros do Ar de São Vicente e tinha uma missão: apresentar um projeto voltado à comunidade. Decidiu, então, trabalhar no reforço da alimentação de idosos carentes e escolheu a Associação Lar de Amparo Vovó Walquíria, no Bairro Cidade Náutica 3, em São Vicente, para pôr o sonho em prática. (confira matéria em vídeo mais abaixo)


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“O objetivo é trazer uma alimentação mais saudável, sem agrotóxicos, e estimular a participação dos idosos, trazendo uma forma de atividade física para eles”, alega.


Ele conta que começou a traçar os primeiros planos em setembro de 2020. Porém, com a pandemia de covid-19, a proposta teve de esperar. “A gente queria ajudar uma instituição de idosos. Ligamos em algumas para saber qual a necessidade delas e acabamos escolhendo a Vovó Walquíria.”


A partir daí, o projeto dava sinais de que decolaria. “Mas veio a segunda onda, e tivemos que parar por causa do risco de transmissão do coronavírus. Conseguimos retomar em fevereiro, quando os idosos já estavam vacinados e a situação melhorou”, explica.


A novidade agitou a instituição. Afinal, o trabalho na horta e o contato com a natureza promovem integração, sociabilidade, atividade física e movimentam a rotina, além de reforçar o amor à natureza e ao meio ambiente.


 Iva Monteiro: “É maravilhoso. Além de fazerem a horta, trouxeram alegria para a gente e para os idosos”
Iva Monteiro: “É maravilhoso. Além de fazerem a horta, trouxeram alegria para a gente e para os idosos”   Foto: Matheus Tagé/AT

“É maravilhoso. Além de fazerem a horta, eles trouxeram alegria para a gente e para os idosos, que voltaram a se sentir úteis. Porque, com a pandemia, a entrada dos voluntários solidários, que faziam atividades com eles, foi reduzida”, diz a presidente da Instituição, Iva Cristina Moura de Almeida Monteiro.


No prato
Em nove meses, o quintal da entidade ganhou cara e astral novos. Na horta, há uma variedade de verduras e legumes, como cenoura, berinjela, batata-doce, chuchu, quiabo, beterraba, alface e couve. Em pneus adaptados para vasos, foram plantados manjericão, coentro, cebolinha, alecrim, mostarda, hortelã, erva-doce.


Os alimentos já são utilizados pelas cozinheiras na preparação de saladas, sopas e outros pratos. Tudo é produzido de forma natural e bem fresquinho.


“Deu um sabor diferente para a comida. Não tem algo melhor que isso, e eles gostam bastante. Meu sonho é ampliar. Quem quiser continuar ajudando com as mudinhas a gente aceita”, acrescenta Iva. “Na verdade, aqui precisamos de todo tipo de doação.”


 Guilherme Ramos enfrentou obstáculos, pediu ajuda e conseguiu concretizar o projeto dentro do prazo
Guilherme Ramos enfrentou obstáculos, pediu ajuda e conseguiu concretizar o projeto dentro do prazo   Foto: Matheus Tagé/AT

Colaboração mútua
Nem sempre foi assim. Quando esteve pela primeira vez na instituição, Guilherme Almeida Ramos se surpreendeu negativamente. “Era uma situação complicada. Estava cheio de mato, o terreno apresentava irregularidades e tinha buracos. Mesmo assim, não desistimos.”


Segundo ele, foi o momento de pedir ajuda para amigos, para o grupo Escoteiros do Mar Almirante Barroso, de Santos, e para a comunidade.


“Fizemos vários mutirões. Vínhamos aos sábados e domingos. Começamos com a pintura do muro. Capinamos o local. Conseguimos máquina para alinhar o terreno e pedras. Assim, eles (os idosos) poderiam transitar com mais segurança.”


Até o solo foi estudado com atenção para se ter certeza de que a horta vingaria. “Tivemos essa preocupação. Fui buscar ajuda com um amigo que é engenheiro agrônomo. Procurei ajuda em todos os lugares. Tudo aqui foi doado.”


A corrida contra o tempo tinha outro ingrediente: o projeto tinha de ser entregue até agosto último. “Tinha que terminar antes de completar 21 anos, que seria em agosto. Isso porque, no mundo dos escoteiros, a gente é pioneiro entre 18 e 21 anos. Depois, vira adulto voluntário.”


 Clovis Santos já trabalhou em sítio. Para ele, horta “trouxe alegria”
Clovis Santos já trabalhou em sítio. Para ele, horta “trouxe alegria”   Foto: Matheus Tagé/AT

Terapia
Assim que acorda, Clovis José dos Santos, de 74 anos, pega o regador e vai cuidar das plantas. Para ele, é uma terapia passear entre espécies de verduras, legumes e ervas.


Santos conta que trabalhou muito tempo no sítio da família dele e tem habilidades necessárias para cuidar da horta.


“Meu cunhado tinha um sítio em Ibiúna, no Interior (do Estado), e a gente plantava muita coisa lá. Venho para a horta de manhã. Quando está muito calor, volto no final da tarde. Ela (a horta) trouxe alegria”, descreve.


Alice Barbosa, de 60 anos, também não perde a chance de colocar a mão na massa — no caso, nas plantinhas. A novidade deu um incentivo adicional nas atividades deles na instituição. “Já trabalhei na roça. Aqui, acabo me lembrando da minha juventude. Plantava milho, feijão, quiabo. Fico feliz.”


Quem também se diverte com a atividade é Maria Alice de Jesus, de 78 anos. Ela adora acompanhar o crescimento das espécies e provar tudo depois, na hora em que as plantinhas vão para o prato. “A salada de alface ficou uma delícia. A cozinheira faz tudo daqui, e fica bem gostoso.”


Confira mais no video abaixo:



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