Palafitas e áreas de risco: problema social se arrasta há anos aos olhos do poder público

Governos não podem alegar falta de recursos ou de conhecimento sobre onde e como estão as áreas irregulares

Por: Arminda Augusto  -  01/05/22  -  17:00
O esgoto não-tratado na Vila dos Pescadores ou na Vila Pantanal vem parar na praia em que todos se banham
O esgoto não-tratado na Vila dos Pescadores ou na Vila Pantanal vem parar na praia em que todos se banham   Foto: Arquivo AT

O título que encabeça este texto já foi usado inúmeras vezes, por inúmeros autores, e em quase todas elas o objetivo é o mesmo: expressar que a solução de um problema social não diz respeito apenas à parte da população diretamente atingida por ele, mas a todo o coletivo da sociedade. E não seria diferente quando o tema central é o crescimento das populações em áreas irregulares, quer sejam mangues, palafitas, áreas de risco nas encostas dos morros ou em trechos ambientalmente protegidos.


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Não vivemos em bolhas, com cada segmento social dentro da sua. O esgoto não-tratado na Vila dos Pescadores ou na Vila Pantanal vem parar na praia em que todos se banham. O mangue devastado da Vila dos Criadores prejudica o berçário natural do peixe que um dia viria parar na mesa da família. Mais que isso: as pessoas que vivem em áreas de risco um dia podem ser atingidas por desbarrancamentos, podem morrer sem acesso a condições dignas de saúde, e essas vidas perdidas impactam relações sociais, relações familiares, relações de amizade e de trabalho.


Governo nenhum, de esfera nenhuma, pode dizer que não tem como controlar o crescimento dessas áreas. Hoje, já há ferramentas tecnológicas acessíveis para monitorar até debaixo da terra, o que dirá sobre ela. Conhecer essas áreas, saber quem vive ali e que carências tem é o primeiro passo para buscar e dirigir os recursos públicos.


Governo nenhum, de esfera nenhuma, pode alegar falta de recursos. Recursos há, o que falta é entender que essa é uma questão prioritária porque, uma vez mitigada, favorece o conjunto dos municípios e seus moradores.


Governo nenhum, de esfera nenhuma, pode dizer que nessas comunidades só vivem bandidos ou pessoas fora da lei. É fato que a falta de estrutura, de arruamento e de iluminação favorece a que lugares com alta densidade demográfica sirvam de esconderijo para criminosos, mas essa não é a regra. Em casas de família, atrás do balcão de loja, na cozinha dos bares, na condução do ônibus que se pega todos os dias há pessoas que vivem sobre a água, debaixo de uma pedra prestes a cair, num terreno íngreme, que não podem pagar aluguel ou contrair financiamento em programas oficiais.


Todos têm responsabilidade sobre um quadro assim, e já bastaram os discursos que terceirizam as soluções, como se fosse a sociedade civil, e não os governos, os responsáveis por criar as políticas públicas necessárias e ir em busca de recursos.


Brasileiros são sempre esperançosos. A esperança está no DNA. Este caderno reúne motivos,falas e constatações para provar que já não há mais espaço nem tempo para falar em radiografias ou reuniões técnicas. Para que a esperança de dias melhores se mantenha no horizonte de quem vive em áreas irregulares e de quem acompanha esse quadro, é preciso, agora,ir em busca de soluções.


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