No Gonzaga em Santos, a simples revolução de um livreiro idealista

A Covid desafiou esses profissionais, mas a criatividade pôde levar à reinvenção

Por: Redação  -  08/08/21  -  10:07
 Na pandemia, Tahan mandou os funcionários para casa e assumiu tudo sozinho
Na pandemia, Tahan mandou os funcionários para casa e assumiu tudo sozinho   Foto: Irandy Ribas/AT

Ler, que sempre foi essencial, ganhou peso dobrado no período de pandemia. Mas, e quando aquele inconfundível cheiro de livros novos que dominam as “boas casas do ramo” não pode ser sentido? A Covid desafiou os livreiros. Mas eles são, antes de tudo, uns fortes - como diria Euclides da Cunha. E também se reinventaram.


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“Palavra usada à exaustão é reinvenção. Reinvenção é aquela coisa que beira a criatividade. A gente está numa adaptação dura. A pandemia nos engana. Volta e meia a gente acha que ela está evoluindo e anda para trás”, conta José Luiz Tahan, a mente por trás da Livraria e Editora Realejo.


Os tempos mais restritos exigiram medidas extremas. Tahan mandou os funcionários para casa, para que se protegessem, e assumiu, sozinho, do marketing nas redes sociais às entregas das unidades. A experiência trouxe retorno não apenas econômico, mas pessoal.


“Nesse período de três meses, quando fui a livraria de um homem só, tive uma experiência que vai ficar para sempre, é uma relação que nunca tive com o leitor. Muitos leitores falam da importância do livro, que deu a eles um amparo. Não só os de autoajuda, mas no hábito de ler”, descreve.


Concorrência online x sonho


O livreiro sabe que a concorrência das vendas online é grande. No preço ou a comodidade das compras à distância, o desafio de equilibrar a balança. Mas Tahan é persistente. Ele acredita que o contato com o vendedor, a dica precisa e o papo agradável podem manter essa boa convivência.


“Ficamos limitados em tentar oferecer nossos pontos fortes. O que acabou acontecendo foi uma intensificação dos trabalhos nas redes sociais. Tentar mostrar para o leitor que dá para ter um consumo consciente. Posso sonhar em um leitor com consciência, que fale “entre economizar 3 ou 4 reais, num site de departamentos, prefiro prestigiar um lugar que me dá mais do que só o produto. Preciso manter esse sonho comigo”, pondera Tahan.


Tarrafa Express


Outra mudança (ou adaptação) precisou ser feita no Festival Tarrafa Literária, outro xodó do livreiro. Após uma versão online, no ano passado, o YouTube da Tarrafa Literária trará autores para conversas francas sobre a literatura este ano, entre os dias 12 e 28 próximos.


A Tarrafa Literária Express terá um formato inédito, com gravações antecipadas e mais focada no autor. “Ela foi, sim, adaptada para o online. Luto sempre por ela e pela livraria de rua que eu habito. Minha vida se mistura a esse oficio”.


Lugar de livraria é na rua


José Luiz Tahan é defensor ferrenho das livrarias de rua. E não apenas por causa própria, já que sua Realejo é tradicional no coração do Gonzaga. Mas por entender que elas são necessárias à paisagem e à difusão da cultura.


“Bato na tecla da livraria de rua, porque elas são, como os cinemas ou teatros de rua, locais que entram na paisagem urbana e não saem mais da memória do consumidor de cultura. Então, defendo, sim, isso como algo importante na paisagem urbana para que a gente não suma da memória do leitor”, define.


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