Educação Infantil na Baixada Santista pede mais atenção e teme retrocessos

Impossibilitados de interagir com professores e amiguinhos, os pequenos sofrem com a distância da escola

Por: Da Redação  -  19/04/21  -  08:55
   Alunos do Ensino Fundamental e Médio já sentem a falta das aulas presenciais
Alunos do Ensino Fundamental e Médio já sentem a falta das aulas presenciais   Foto: Matheus Tagé/AT

Se os alunos do Ensino Fundamental e Médio já sentem a falta das aulas presenciais, o que imaginar de quem está começando a jornada? Os pequenos, de 0 a 5 anos, estão sendo duramente afetados por uma mudança de rotina que muitos sequer entendem a razão. E tamanho tempo perdido causa uma justa preocupação.


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“A gente precisa ter um investimento que, para mim, ao lado de professores, um dos mais fundamentais é quanto à Primeira Infância - no Brasil, de 0 a 5 anos, ela é completamente abandonada. Não existe uma política nacional para ela. Precisamos cuidar dessas crianças. Mais de 70% de desenvolvimento cognitivo acontece na primeira infância. Não dá para simplesmente negligenciar. Há muito trabalho a ser feito”, avalia Priscila Cruz, do Todos pela Educação.


Esse “abandono” também é criticado pela neuropsicopedagoga e educadora parental Juliana Mondin. “Parece que as pessoas só percebem as crianças entre 4 a 6 anos. Esquecem quem é de 0 a até cinco anos. Isso porque a gente leva em consideração que a base do desenvolvimento começa desde a gestação. A pandemia veio trazer isso para a gente, essa discussão. Porque, para poder avaliar o desenvolvimento da criança, precisamos de uma observação mais apurada, mais refinada até nesse sentido de observar as fases propicias do desenvolvimento”, alerta.


Ela vê uma mudança por conta da pandemia: o estreitamento na relação com os familiares dos pequenos. “A pandemia favoreceu o relacionamento com as famílias. A gente depende delas para saber como está o desenvolvimento das crianças. Antes, era mais ou menos assim, em alguns casos: as crianças chegavam e os pais perguntavam se estava tudo bem e a a gente passava as informações. Agora, nós é que esperamos o feedback”.


Elementos para sentir falta


Juliana frisa que os pequenos estão afastados da socialização e da orientação de rotina, elementos importantes dentro do processo de desenvolvimento. Mas, sobretudo, afastados do ato do brincar, que é de suma importância.


“Em casa, elas até brincam, mas não é uma brincadeira direcionada, pontuada, mais leve. Há um prejuízo grande É como a construção de uma casa: ela precisa de um alicerce forte para, então, construir as paredes. E elas não estão tendo (esse alicerce)”, explica a neuropsicopedagoga e educadora parental.


É nesse contexto que os pais são ainda mais importantes. Ela discorda do hábito de alguns pais de uniformizar os pequenos para as aulas online, a título de dar um verniz de rotina ao ensino online.


“Vejo muitos pais fazerem isso para postar no Instagram. Satisfaz o ego”, conta. A colaboração com o pequeno deve ser, então, mais focada no brincar.


“Dentro dessa perspectiva, o que eles podem fazer é, literalmente, brincar. Permitir que a criança crie autonomia, dentro das possibilidades. Quando a gente fala nisso, há quem se assuste: ‘Vai deixá-lo fazer o que quiser?’ Não é isso. Mas, se eles realmente assumirem essa responsabilidade de, todos os dias ou em dias alternados, pegar 15, 20 minutos, meia hora, e literalmente brincar, desligar de tudo e promover essa autonomia, fazê-la escolher do que quer brincar, o que quer fazer. Deixar a criança escolher qual brinquedo usar. Assim, ela vai estar ajudando e muito para esse retorno”, sinaliza a profissional.


Entre os mais velhos, evasão escolar se torna preocupação


Se a situação dos pequenos causa preocupação, os mais velhos acenam para uma outra questão: a evasão escolar. Sem o compromisso diário de estarem na escola presencial, ou impossibilitado de estudar remotamente, por falta de aparato tecnológico ou mesmo de disposição para as aulas online, muitos simplesmente não participam das atividades.


A professora Alexandra Seixas, que dá aula nas redes municipal de Santos e estadual, dá o seu testemunho. “De modo geral, os alunos da rede estadual não ficaram totalmente sem conteúdo, pois há aulas diárias no Centro de Mídias, plataforma e TV onde são transmitidas essas aulas, além de receberem material impresso. É claro que não é o recurso mais ideal, pois nada substitui a sala de aula e a presença maciça do professor como mediador, mas é uma luz para os alunos. A defasagem do ensino é inevitável. A pandemia trouxe um rombo que demorará anos para nos recuperarmos. Quanto à participação dos alunos, ainda é baixa, seja pela falta de interesse, perdas familiares ou falta de recurso tecnológico para acompanhar as aulas. Foram mudanças muito bruscas que atingiram negativamente os alunos e suas famílias”, pontua.


A situação acende o alerta para Priscila Cruz. Para ela, soa necessário um esforço de busca ativa desses alunos. “A evasão explodiu. Vamos ter nas próximas reaberturas das escolas, no curto prazo, uma evasão ainda maior, especialmente entre os jovens. Vamos entrar num patamar, mais ou menos, de 20 a 25% dos jovens, sobretudo no Ensino Médio. Isso é uma bomba social e econômica”, considera. Para ela, os desdobramentos dessa evasão sentidos mais adiante, especialmente quando da entrada no mercado de trabalho. “Em pleno século 21, não ter nem o Ensino Médio concluído é algo impensável para você poder navegar nesse mundo. Há muito trabalho que precisa ser feito”, acrescenta.


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