Da integração à acolhida: os caminhos

Chave está na participação dos entes do ambiente escolar, assim como receber bem a quem sentiu mais a volta às aulas

Por: Redação  -  03/04/22  -  17:25
A frase no muro da UME Olga Cury, em Santos, reflete o pensamento dos envolvidos com Educação; a união de esforços é primordial
A frase no muro da UME Olga Cury, em Santos, reflete o pensamento dos envolvidos com Educação; a união de esforços é primordial   Foto: Alexsander Ferraz/AT

Nem só de notícias ruins vive a retomada das aulas. Há espaço para boas iniciativas, capazes de fazer a diferença para quem sonha com tempos melhores. E nas mãos dos gestores de escolas, aqueles “na ponta da linha” do contato com professores, alunos e comunidade, está a chave para iniciar uma transformação onde todos ganhem.


Clique, assine A Tribuna por apenas R$ 1,90 e ganhe centenas de benefícios!


“A gente organizou algumas paradas nas reuniões. Trouxemos dois profissionais para trabalhar com eles a questão emocional do ser humano. A gente precisa resgatar o ser humano, independe se ele é aluno, se é professor, se é família ou se é profissional da escola. A gente precisa olhar para o ser humano que chegou ao espaço escolar. Inclusive da equipe gestora. Porque somos nós que temos a responsabilidade de receber toda essa demanda e nos acalmarmos para poder direcionar as ações”, explica Maria de Lourdes Cordeiro, diretora da UME José Carlos de Azevedo Júnior, de Santos.


Ela conta que, com os docentes, houve a participação de uma terapeuta, bem como uma profissional para falar de educação sistêmica.


“Porque a pandemia desestabilizou o sistema. O de ensino, o sistema familiar, o nosso sistema, afetou o emocional. Não posso falar de um exercício docente se eu não estou falando como ser humano. A gente precisa discutir essas questões em rede para, dentro da escola, definir quantas ações e serviços a gente precisa colocar à disposição dos profissionais”, ensina.


Ela destaca que foram traçadas algumas ações para amparar o professor. “Foi para que ele tivesse uma respiração consciente, exercitar a calma, ter um distanciamento e olhar que a agressão do aluno não é com ele, mas para ele. Se ele tomar a agressão de um aluno como uma provocação, não vai haver diálogo”, frisa.


A educadora insiste na empatia como fator convergente entre alunos e professores. “Ele precisa ter um olhar generoso com seu aluno. Não adianta criar expectativas de um aluno que ele deixou lá em 2019. Precisa olhar com muita humildade e enxergar o ser humano para, depois, vir o papel do aluno. Esse é um outro exercício de psíquica. Porque o professorado também é ser humano: também teve perdas e teve que desconstruir para, depois, reconstruir”.


Acolhida
Janaína Lamas, diretora da UME Padre Waldemar Valle Martins, também em Santos, revela que, se antes da pandemia, as crianças chegavam com rotinas estabelecidas, algumas ainda demonstram problemas de adaptação. “Ainda tem muito choro e muita saudade da família. Foi preciso que a equipe pedagógica pensasse em horários diferenciados, para que a gente visasse a adaptação das crianças”, conta – a unidade funciona em período integral.


Além disso, segundo ela, a escola conta com uma parceria com a UniSantos, para o projeto Crianças, sua Infância e Suas Vozes para a Educação Integral e Políticas Públicas. Ali, o intuito é ter a escuta como dispositivo pedagógico. “A gente entende que, ouvindo os nosso alunos, os professores e todos os profissionais, a gente vai poder desempenhar um trabalho melhor”, pontua.


Janaína salienta que, na escola, há oficinas da jornada ampliada, algo que envolve todas as áreas de uma escola.


“Todo mundo tem que dar as mãos. O educador de capoeira tem que se preocupar se há alguma criança que não está lendo e escrevendo. O educador de dança também. É um problema do cozinheiro ao diretor. Todos nós precisamos estar preocupados com isso. Porém, para o educador, nem tudo está perdido. Só a morte é irreparável. A gente continua a ter esperança. E vai conseguir um bom resultado”, prevê.


Expansão do Programa de Ensino Integral, anunciada no ano passado, é celebrada pelo Governo do Estado
Expansão do Programa de Ensino Integral, anunciada no ano passado, é celebrada pelo Governo do Estado   Foto: Divulgação/Governo de SP

Ensino integral
A implementação do Ensino Integral nas escolas tem ganhado corpo nos últimos tempos. O PEI (Programa de Ensino Integral) do Governo do Estado ganhou corpo e, até o fim do ano, a expectativa é de chegar a 3 mil unidades, com 2.200 já implementadas. De acordo com João Bosco, da Regional de Ensino de Santos, é um diferencial importante para os alunos. E narra uma história que ilustra o quanto o amparo é necessário e, sobretudo, um projeto de vida, algo estimulado em sala de aula pelos professores.


“Quando eu era dirigente de São Vicente, a gente inaugurou a primeira escola de tempo integral em 2012. No momento em que estávamos inaugurando a escola, cada aluno falou o que sonhava para sua vida. E uma menina disse: quero ser prostituta. Todo mundo ficou surpreso com a resposta. Falei para eles: a gente não tem que se preocupar com o que ela disse, mas o que vamos fazer para que essa menina reverta a ideia”, conta.


Regina Spada, da Regional de São Vicente, vai na mesma tecla. “A questão do projeto de vida é muito impactante. Porque o adolescente, esse que vem com todos os problemas emocionais, está no momento dele se colocar, de conseguir trazer a essência dele de volta. Olhar no futuro e ver a luz no final do túnel. Estamos apostando nisso, com dinâmicas, onde os alunos põem lá: ‘Quero ser engenheiro. O que tenho que estudar? Como me preparar até financeiramente para alcançar esse objetivo?’”, relata.


Ela acrescenta que, por conta da expansão do Ensino Integral, os resultados podem ser vistos em pouco tempo. “Claro que tudo deve ser feito com muita responsabilidade. Porque sabemos que muitos jovens, principalmente nesse momento, precisam trabalhar, estudar no horário noturno. Não podemos colocar o ensino integral como gostaríamos por conta desses jovens que precisam trabalhar. Mas existem possibilidades, como um integral de sete horas, para que os jovens consigam fazer seus cursos”, emenda a dirigente.


Logo A Tribuna