Lições ambientais de José Bonifácio
Espero que o seus ensinamentos incentivem as atuais e as novas gerações de brasileiros
"Virá então este dia, terrível e fatal, em que a ultrajada natureza se ache vingada de tantos erros e crimes cometidos". Os últimos acontecimentos no Brasil e no mundo, com mudanças climáticas devastadoras, tempestades, onda de superaquecimento, derretimento de camadas polares, só confirmam a genialidade de José Bonifácio de Andrade e Silva. A frase, destacada em um artigo de 1823, já previa, dois séculos antes, o que já estamos vivendo hoje, com a destruição das florestas e de toda a sua biodiversidade.
Nascido em 13 de junho de 1763, há 259 anos, Bonifácio se tornou conhecido como estadista e pelo papel decisivo na separação do Brasil de Portugal, o que lhe rendeu os títulos de Patrono da Independência, Herói da Pátria e Libertador da América. Só que não é tão conhecida a sua carreira como naturalista, alcançado no campo da minerologia com a descoberta de quatro minerais, um deles a andradita, batizada assim em sua homenagem.
Filho de funcionário da Coroa Portuguesa, Bonifácio estudou na Universidade de Coimbra e lá recebeu formação em Direito, Filosofia Natural e Matemática. No seu primeiro trabalho científico, defendeu a preservação das baleias e alertou para o baixo retorno da caça predatória do animal em face dos danos ambientais. Em Portugal, também exerceu cargos públicos, entre eles a direção dos bosques nacionais.
Quando voltou ao País, já ministro e conselheiro do príncipe regente, percorreu as matas de São Paulo para estudos e viu de perto os desmatamentos provocados pelas lavouras e pecuária. Defendeu a criação de uma Direção Geral de Economia Política, uma espécie de ministério para a política integrada de infraestrutura, agricultura e meio ambiente (que acabou não vingando), e, enquanto deputado constituinte, ideias avançadas como a de conservar florestas nativas em parte das propriedades rurais.
Assim, muito antes do meio ambiente virar uma preocupação do planeta, Bonifácio era um dos precursores mundiais da preocupação com a sustentabilidade, o que no início deste século 21 ainda engatinha pelo conceito de ESG (sigla inglesa de governança ambiental, social e corporativa). Por toda esta história de dedicação, a data do seu nascimento (13 de junho) tornou-se o Dia do Ecologista Brasileiro.
Com tanta inspiração, Santos absorveu muitas das suas lições ambientais, com investimentos importantes desde a criação do sistema de drenagem e canais, políticas de reciclagem e redução da geração de lixo, entre outros. Mais recentemente, a Cidade também precisou se adaptar às mudanças do clima, já previstas por Bonifácio, adotando medidas pioneiras como a criação da barreira submersa na Ponta da Praia para minimizar os efeitos das ressacas e alta da maré.
Quando celebramos o nascimento do nosso “filho mais ilustre”, espero que o seu legado e ensinamentos incentivem as atuais e as novas gerações de brasileiros a seguirem combatendo os danos de “tantos erros e crimes cometidos” contra a natureza. Senão, como tão bem questionado por Bonifácio, “que defesa produziremos no tribunal da Razão, quando os nossos netos nos acusarem de fatos tão culposos?".
