Viver cada momento como nunca mais

Lidar diariamente com o palco principal de nossas vidas não é tarefa fácil

Por: Paulo de Jesus  -  02/04/22  -  07:57
Quando somos crianças temos a sensação de que tudo é para sempre
Quando somos crianças temos a sensação de que tudo é para sempre   Foto: Imagem ilustrativa/Unsplash

Andando pelas ruas da minha infância sou tomado por um sentimento de saudosismo que aperta o coração. Precisamos estar prontos para as mudanças, mas, às vezes, a vida nos mostra que não estamos tão preparados assim. Lidar diariamente com o palco principal de nossas vidas não é tarefa fácil. Nascer e permanecer no mesmo lugar permite com que revivamos os nossos amores e, principalmente, as dores que insistem a surgir a cada esquina que se dobra, a cada lembrança que consola.


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Quando somos crianças temos a sensação de que tudo é para sempre. O amor de nossos pais, o carinho de nossos avós, a atenção de nossos amigos. Aquele pastel com caldo de cana bem geladinho na feira livre com o seu avô parecia a ocasião mais especial do mundo (E na verdade era mesmo!), entretanto, só nos damos conta que isso passou quando constatamos que não nos permitimos mais tempo para usufruir momentos como esses e, principalmente, que não temos mais o avô para compartilhar.


Prédios novos e ruas com as mãos de direção alteradas confundem o nosso senso de direção e o coração. Restaurantes, bares, escolas, cinemas e clubes extintos nos relembram que tudo tem começo, meio e fim. A saudade dói mais em quem fica, diriam alguns. Acertadamente. Basta observamos os amigos que foram procurar sucesso profissional em outras paragens e, com isso, aumentaram ainda mais o sentimento de ausência com as suas partidas. Não ousarei dizer que não sofrem, mas creio que conviver com esses movimentos diariamente é um processo mais doloroso.


As ruas que outrora serviram para jogar bola, empinar pipa e brincar de pega-pega, hoje se prestam apenas para aquilo que foram destinadas: trânsito de veículos e motocicletas. Isso se dá, evidentemente, em razão da violência e o processo de urbanização desenfreado responsável por jogar para debaixo do tapete todo aspecto lúdico que deve fazer parte da formação infantil. Nós ainda contamos com lembranças que nos permitem refletir hoje, já as nossas crianças não sabemos, infelizmente.


Apesar disso, são as experiências de vida que contribuem para a construção da nossa personalidade. Viver com os olhos voltados para o retrovisor faz parte da natureza humana pois, geralmente, tendenciamos a considerar que o passado foi melhor do que vivemos hoje e, especialmente, do que está por vir. Ledo engano. As mudanças surgem para o nosso próprio desenvolvimento e cabe a nós ressignificarmos essa saudade que aprisiona e entristece por um sentimento de gratidão e amor pelos instantes vividos. Viver cada momento como nunca mais.


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