Precisamos de mais educação, não de armas de fogo

Não podemos permitir ser conduzidos por opiniões que, muitas vezes, se baseiam em fatos, no mínimo, controversos

Por: Paulo de Jesus  -  30/07/22  -  07:06
  Foto: Unsplash

Sem sombra de dúvida, somos a geração mais informada da história. Basta uma simples pesquisa nos inúmeros sítios de busca para encontrarmos o conteúdo pretendido. Conseguimos nos preparar para provas, trabalhos acadêmicos, negócios, enfim, o mundo está literalmente as nossas mãos. Isso não quer dizer, de forma alguma, que estamos bem-informados. A quantidade não guarda relação direta com a qualidade do que é colhido. Precisamos estar atentos e fazer uma análise de tudo que nos é apresentado.


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Em face dessa enormidade de dados e informações, fazer relação entre as notícias e separar as opiniões dos fatos tem se mostrado um exercício cada vez mais desafiador. Não podemos permitir ser conduzidos por opiniões alheias que, muitas vezes, se baseiam em fatos, no mínimo, controversos. Agir de forma desatenta custará caro, pois num mundo tão conectado, estar à deriva ceifará os nossos sonhos, realizações e, igualmente, a oportunidade de sermos protagonistas das nossas vidas.


Sob o prisma de um advogado criminalista, sou diariamente confrontado pelas mazelas humanas. Paixões, iras, medos, amores e os mais variados sentimentos são colocados à prova na defesa junto ao acusado no banco dos réus, ou mesmo na defesa das vítimas de gestos atrozes que constatamos diariamente pelos jornais e revistas. Escrevi recentemente de quão incompreendida essa profissão é, principalmente por informações equivocadas e propagadas como certezas irrefutáveis por vozes que não se debruçaram a estudar, adequadamente, o direito penal, o processual penal e a criminologia.


O terreno é fértil para esse tipo de expediente. A criminalidade aumenta a olhos vistos, mal conseguimos sair às ruas em razão do medo de sofrer uma violência ou grave ameaça. Nesta esteira, os discursos simplistas multiplicam-se com vistas a prender mais, punir mais e o pior, sempre os mesmos. E para piorar há quem defenda armar a população sob o estapafúrdio pretexto de protegê-la. Fórmulas estas que a ciência criminal já demonstrou cabalmente ineficazes, todavia acalentam os corações mais ferozes e sedentos por justiçamento. O avanço social com base nas leis é lento demais para os julgadores sumários.


Diante desse cenário, o discurso que ganha maior espaço é o de buscarmos armar a população. Voltando ao início deste singelo texto, basta fazermos uma busca na internet para encontrarmos vasto material proferido por “peritos” de toda estirpe defendendo o armamento da população com unhas e dentes. Apontar a diferença entre fatos e opiniões em muitos desses textos é praticamente impossível. Apesar disso, essa narrativa encontra cada vez mais adeptos e o aumento de armas de fogo em circulação foi considerável nos últimos anos.


Até novembro do ano passado havia 2,3 milhões de armas registradas no país, cabendo ao Sistema de Gerenciamento Militar de Armas (SIGMA) manter atualizado o cadastro. Trata-se de um aumento de 78% em relação a 2018, quando havia 1,3 milhão de armas contabilizadas. Um salto importante que merece um olhar atento de toda sociedade pois, se armas nas mãos de tantas pessoas por si só já representam um perigo, como política estimulada pelo Estado demanda atenção e atitudes daqueles que compreendem a gravidade da situação. Não existe atalho quando estamos perante um problema grave.


Não podemos nos deixar levar por opiniões travestidas de fatos. Aumento de armas nas mãos da população civil não é a ferramenta para melhoria da segurança pública e, sim, para o aumento da violência. Muitos países que adotaram essa política armamentista estão revendo suas posições em razão de inúmeros incidentes e crimes envolvendo esses recursos. Para que tenhamos uma sociedade mais segura e um ambiente propício para aqueles que amamos é fundamental investir na prevenção ao crime e não numa eventual legítima defesa bem-sucedida. Educação de qualidade é a chave que precisa ser acionada para vencermos definitivamente a criminalidade. Precisamos de educação, não de armas de fogo.


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