Mais de 33 milhões de pessoas passam fome no Brasil

Até quando vamos permitir?

Por: Paulo de Jesus  -  11/06/22  -  06:22
  Foto: Arquivo/Agência Brasil

Nesta última semana foi divulgada uma pesquisa com números estarrecedores no tocante a nossa realidade social. No Brasil contamos com mais de 33 milhões de pessoas passando fome. Mais da metade da população do país (58,7%) não tem garantidas as refeições diárias, segundo a Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan). Esses números, apesar de chocantes, não nos surpreendem pois, basta darmos uma volta nos quarteirões onde moramos para verificarmos que muitas pessoas enfrentam essa dura condição. A fome e a miséria estão retratadas em várias esquinas do nosso país.


Clique, assine A Tribuna por apenas R$ 1,90 e ganhe centenas de benefícios!


Somente na grande São Paulo, 60 mil pessoas encontram-se em situação de rua. Alimentação e moradia que deveriam ser garantidas – inclusive por força de norma constitucional – passam longe de ser verdade na vida dessa parcela da população. Essa conjuntura piora a cada dia diante da inação da classe política em empreender programas que garantam a segurança alimentar para todos. Lançando um olhar mais aprofundado, nos deparamos com aspectos ainda mais cruéis, como o fato de só na capital contarmos com 620 mil famílias vivendo na extrema pobreza. Uma situação inaceitável que impõe às mulheres e crianças, especialmente, um sofrimento ainda maior.


A grande ironia que reside nesses dados absurdos e que nos enche de indignação é justamente o fato de passarmos por isso em razão da má vontade e falta de gestão. Afinal, somos o quinto maior país do mundo em extensão territorial, com 850 milhões de hectares, dos quais 63% são compostos de vegetação natural. O país é atualmente o maior produtor de açúcar, café e suco de laranja e o maior exportador de carne bovina e soja. Chega a ser indecente o fato de contarmos com um brasileiro sequer passando fome. É um absurdo sem precedentes!


Não podemos mais nos esconder, fingir que isso não está acontecendo. Fechar os vidros dos carros nos semáforos, comprar carros blindados e helicópteros para não ver o que está ocorrendo com os mais necessitados não mudará o cenário que a nossa sociedade construiu. Essa conversa de que temos que “ensinar a pescar e não dar o peixe” serve para quem está bem alimentado e apto a pescar. Quem tem fome, tem pressa, como nos ensinou o saudoso sociólogo e ativista dos direitos humanos Herbert José de Sousa, conhecido como Betinho.


É inconcebível que um país rico como o nosso conte com mais de 125 milhões de brasileiros sem comida garantida todo dia. São mulheres, homens, crianças e idosos que não reúnem condições de dar conta dos seus afazeres diários em razão dessa condição. Como esperar aprimoramento profissional? Como exigir concentração nas aulas? Como esperar consciência social? Alimentar bem, vestir adequadamente, garantir moradia segura, proporcionar condições dignas de vida tem que ser a nossa prioridade, a nossa missão enquanto cidadãos. Devemos exigir dos candidatos da vez propostas concretas com vistas a solucionar essa mazela que tanto nos entristece e não mais discursos lançados ao vento de tempos em tempos em época de eleição.


Precisamos construir um plano de ação para a reversão deste quadro. Priorizar o combate à fome, pois apenas garantindo segurança alimentar para todos que conseguiremos erguer uma sociedade justa e solidária. São imprescindíveis a alimentação garantida e a promoção do desenvolvimento de um modelo econômico que atenda a todos, não apenas aos mais ricos. Investimentos em educação, cultura, consciência ambiental, ciência e tecnologia são as chaves para que possamos abrir as portas de uma nova realidade. Esse é o caminho para melhorarmos a vida dos brasileiros: comida na mesa e conhecimento na cabeça!


Tudo sobre:
Este artigo é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a linha editorial e ideológica do Grupo Tribuna. As empresas que formam o Grupo Tribuna não se responsabilizam e nem podem ser responsabilizadas pelos artigos publicados neste espaço.
Ver todos os colunistas
Logo A Tribuna