É preciso acreditar no potencial dos jovens na política

Foi encerrado o prazo para que os jovens com 16 e 17 anos pudessem obter o título de eleitor

Por: Paulo de Jesus  -  07/05/22  -  07:20
Trata-se de um momento importante na vida de uma pessoa por iniciar o exercício da cidadania com o voto
Trata-se de um momento importante na vida de uma pessoa por iniciar o exercício da cidadania com o voto   Foto: José Cruz/Agência Brasil

Na última quarta-feira (04) foi encerrado o prazo para que os jovens com 16 e 17 anos pudessem obter o título de eleitor e participar das eleições deste ano. Trata-se de um momento importante na vida de uma pessoa por iniciar o efetivo exercício da cidadania com o voto. Atualmente, parece-nos algo simples e corriqueiro ver os jovens participarem das eleições e escolherem livremente os nossos representantes, entretanto, esse direito se tornou possível apenas com promulgação da Constituição Federal em outubro de 1988.


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Lá se vão mais de 34 anos daquele longínquo 2 de março de 1988 em que foi apresentada proposta de emenda pelo deputado federal Hermes Zaneti (PMDB-RS), à qual deu voz à movimentação política dos anos 80 buscando permissão para que o jovem a partir de 16 anos pudesse participar do processo democrático. A proposta foi aprovada por 355 votos contra 98 que tentaram derrubá-la, além de 38 abstenções. Numa significativa vitória da democracia brasileira, vimos uma demonstração que a nossa sociedade se preocupou em criar ferramentas que garantissem a efetiva participação de seu povo na tomada de decisões.


Lembro-me bem desse período pois, apesar de contar com pouco mais de sete anos à época, desde sempre me interessei por política e suas implicações. Acompanhava o meu pai e o meu avô nas eleições e fazia o “x” no candidato indicado por eles - penso que votava melhor naquela época do que faço atualmente. Tomando ciência dessa possibilidade, passei a aguardar ansiosamente contar com a idade legal para poder votar e escolher por mim mesmo o rumo não só da minha cidade e estado, mas principalmente do meu país. Ser ouvido na tomada de decisões foi algo que sempre valorizei como garantia, não só para mim, mas para todos os cidadãos.


Hoje em dia vivemos uma realidade preocupante. De acordo com levantamento realizado pela Justiça Eleitoral, apenas 834 mil adolescentes contam com título de eleitor no Brasil. Esse número representa 13,6% do total de brasileiros nessa faixa etária que poderiam votar. Em razão deste cenário, o Tribunal Superior Eleitoral promove desde 2021 campanhas específicas para que haja um maior engajamento dos jovens, conclamando-os a participar das eleições. Recentemente a cantora Anitta, o cantor Zeca Pagodinho e até artistas internacionais como Mark Ruffalo e Leonardo DiCaprio tomaram iniciativas buscando a maior participação dos jovens.


Confesso que essa realidade me surpreendeu. Aquele jovem afoito por tirar o seu título de eleitor aos 16 anos imaginava que passados mais de 30 anos nós contaríamos com uma porcentagem bem maior de jovens interessados em participar das decisões e serem ouvidos; e não ser confrontado com os tímidos números apresentados. Imaginava que a justa indignação e o desejo de mudar o mundo, inerente ao jovem, estaria materializado no exercício do voto e na manifestação política, entretanto, isso não aconteceu.


Apesar desse estado de coisas, é possível fazer muito para mudar esse cenário. As campanhas institucionais e a participação da classe artística têm, igualmente, importante papel na busca pela mobilização juvenil, mas essas iniciativas não são suficientes. Para constatarmos isso, basta observarmos a grande participação dos jovens nas mídias sociais, nos programas de rádio, TV e outras ferramentas de comunicação quando são tratados temas que não guardam relação com a política. Não podemos culpá-los por essa falta de interesse, afinal, essa temática mostrou-se pouco atraente e impeditiva para esse público. Precisamos fazê-los entender que essa participação é indispensável e esse movimento positivo só será possível dando voz à juventude. Eu acredito nos jovens na política.


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