Amizade real, e não virtual

De nada serve enchermos os nossos “stories” de mensagens repletas de sentimentos e não praticarmos atos concretos

Por: Paulo de Jesus  -  23/07/22  -  07:23
Amizade real, e não virtual
Amizade real, e não virtual   Foto: Pixabay

Nesta última quarta-feira (20) foi comemorado mais um Dia do Amigo. As redes sociais foram tomadas por lindas mensagens de carinho e afeto, mostrando como é importante contarmos com verdadeiras amizades em todos os momentos das nossas vidas. Fiquei bastante impressionado com a qualidade das fotografias, com a extensão dos textos contendo relatos emocionantes e aquela sensação única de bem-estar que só um mundo repleto de amigos pode proporcionar.


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Saciado de tanto amor e consternado por tamanha fraternidade, desliguei o aparelho celular e fui dar uma boa olhada no mundo real. Infelizmente, não havia nada novo sob o sol. O mesmo buzinaço nas ruas e a falta de paciência entre os motoristas e pedestres; a indiferença com os moradores de rua e com o sofrimento por eles experimentados; o convívio entre os “amigos” tendo como palco os grupos criados em aplicativos virtuais com pouco ou quase nenhum contato pessoal. Em outras palavras, não encontrei nada daquilo que tinha lido de tão lindo há poucos instantes.


Acredito que aqueles que leram esses dois primeiros parágrafos devem ter chegado à conclusão de que, no mínimo, eu estava muito mal-humorado quando comecei a escrever, mas não se trata disso em absoluto. Trata-se de um grito de alerta. Um alerta para que deixemos de festejar dias específicos de comemoração através de posts e mensagens virtuais para uma efetiva ação na vida. Não podemos mais viver uma realidade virtual quando tratamos daquilo que nos é caro, como as nossas amizades, porque de nada serve enchermos os nossos “feeds” e “stories” de mensagens repletas de sentimentos e não praticarmos atos concretos.


Teremos poucos amigos durante a vida. Aquela antiga máxima de: “contar nos dedos de uma mão” a quantidade de amigos conquistados retrata a realidade. Quem consegue contemplar todos os dedos pode se considerar alguém de muita sorte. Por mais que nos dediquemos a cativar, regar e cuidar, o nascimento de uma amizade é algo que depende de uma série de fatores alheios a uma ação direta. É preciso identidade de propósito, sintonia de corações e almas. É necessário que aquela pessoa desperte o melhor em nós, nos momentos felizes ou tristes.


Diante da relevância do papel interpretado por um amigo na nossa existência, bem como na dificuldade de encontrar esse carinho tão verdadeiro, não podemos relegá-lo a um post na internet ou mesmo a uma “conversa fiada” num aplicativo qualquer. A amizade precisa ser vivida e exige presença. Quantos amigos não vejo há anos, mas converso com frequência pelo celular? Esses meus amigos sabem quem são e prometo que mudarei isso. Está registrado. Espero que quem esteja lendo faça o mesmo!


Passaremos por muitas provas para as amizades durante esse ano. A principal delas é a eleição presidencial, especialmente. Em razão de um forte sentimento de Fla-Flu político, inúmeros eventos de violência estão acontecendo. O que será então das amizades? Muitos grupos virtuais de amigos já se tornaram um ambiente de guerra, atingindo em cheio as relações na vida real. Precisamos buscar a sensatez e o equilíbrio para passarmos por esse período fortalecidos no caráter, na postura e, principalmente, na manutenção dos tão raros afetos advindos dos vínculos verdadeiros.


Presença, respeito e amor. Esses são os ingredientes para que nós consigamos manter as poucas e valiosas amizades amealhadas. Entender que o sentimento não passa pelo dedilhar de um teclado, mas por um forte abraço e calor humano sincero. O respeito e o amor sentidos não passam por uma máquina, mas pelos corações humanos. A amizade há de ser vivida, sentida e experimentada, não podendo ser substituída por nenhuma ferramenta tecnológica. A amizade é real, não virtual.


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