Rotina de anos

Mais uma vez a história se repete no Santos

Por: Marcio Calves  -  10/07/22  -  07:02
A bola da vez foi o argentino Fabián Bustos, que durou apenas cerca de quatro meses
A bola da vez foi o argentino Fabián Bustos, que durou apenas cerca de quatro meses   Foto: Matheus Tagé/AT

Mais uma vez a história se repete no Santos. Derrotas, campanha ruim, vexames, protestos de torcedores, críticas e, no final, demissão do treinador. A bola da vez foi o argentino Fabián Bustos, que durou apenas cerca de quatro meses. É apenas mais um na lista que tem Fábio Carille, Fernando Diniz e Ariel Holan, dentre outros. Desde Jorge Sampaoli, em 2019, foram nove comandantes, incluindo as três interinidades de Marcelo Fernandes.


Os números de Bustos, inegavelmente, são pífios: nove vitórias, 13 empates e oito derrotas. Nesse meio, há a absurda eliminação da Copa Sul-Americana, em plena Vila Belmiro, para o Deportivo Táchira, e, salvo milagre, da Copa do Brasil, após a sonora derrota por goleada para o Corinthians, no jogo de ida, por 4 a 0.


Para seguir na competição nacional sem disputa de pênaltis, o Santos precisa vencer por cinco gols de diferença. Até para sonhar é difícil, ainda que o futebol seja pródigo em apresentar surpresas. Desse porte, porém, é raro, levando em consideração também o nível técnico do time. Muito provavelmente, restará apenas o Campeonato Brasileiro, cuja meta maior, sem dúvida, é evitar o rebaixamento para a Série B.


Com Fabián Bustos e comissão, também foi embora Edu Dracena, inventado pelo presidente Andrés Rueda como executivo de futebol. Dracena foi responsável pela “descoberta” do treinador argentino, acreditando que o trabalho no Barcelona de Guayaquil o credenciava a assumir o Santos. Sem dúvida, mais uma aventura a confirmar, no mínimo, falta de visão e sensibilidade.


A questão maior do Santos hoje é clara: o elenco é fraco para o momento, ainda que jovens como Marcos Leonardo, Ângelo e outros sejam uma perspectiva. A única realidade é o goleiro João Paulo. O problema é o tempo. Esperar que amadureçam e comandem o time é um risco sério.


As informações dão conta que o atual projeto da diretoria é rigorosamente administrativo, visando sanear o clube financeiramente, após anos e anos de desmandos. Em tese, meta positiva, mas de nada adiantará se, paralelamente, o time não tiver razoável qualidade e apresentar resultados. O peso das constantes demissões de treinador é grande em termos financeiros. Houve um momento, segundo consta, que o Santos pagava até três treinadores. Que gestão é essa?


Como a demissão de Fabián Bustos está consumada, talvez seja agora a última oportunidade de salvar a temporada e evitar o pior. A decisão de chamar o ex-jogador e ídolo Giovanni para integrar a comissão técnica interina, sob o comando do eterno Marcelo Fernandes, é mais emocional do que prática. Grandes craques do passado devem ser sempre lembrados e homenageados e são a história do clube, porém, estão longe de representar soluções.


Com certeza, não há mais espaço para erros ou aventuras. Se o modelo em mente prevê um executivo de futebol para depois definir o treinador, que se opte por um profissional sério e competente. No mercado, há algumas boas opões, com reconhecida capacidade e experiência. Um deles já até passou pelo Santos como treinador e algumas temporadas atrás decidiu investir nessa carreira profissional. E também tem bom nível cultural, para elevar o patamar interno.


Independentemente de nomes, contudo, é preciso definir claramente o projeto e sua dimensão. Além disso, são impostas coragem e ousadia, ainda que possa colocar a meta administrativa em segundo plano. Segundo renomados economistas, investimento não é despesa e traz retorno financeiro e parceiros.


Ainda que vivam realidades completamente diferentes, Palmeiras e Flamengo são hoje bons exemplos. Ambos são sempre investidores, têm como meta o time e os resultados. O clube carioca, além de voltar ao mercado e contratar Éverton Cebolinha e Arturo Vidal, fala até em construir estádio próprio, enquanto o paulista vive a tranquilidade de contar com uma presidente e patrocinadora.


Vale lembrar que o Flamengo viveu recentemente uma fase administrativa semelhante à do Santos e retomou seu protagonismo nacional, e até mundial, com uma gestão arrojada. A chave do sucesso é ter o máximo como objetivo. Os que não acreditam nisso se focam em conseguir pouco. E muitas vezes não é o suficiente.


O Santos precisa sair de sua triste rotina de anos. Ou não sobreviverá.


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