Punição exemplar

O zagueiro Renan Victor se envolveu em um acidente e matou um motocilista

Por: Marcio Calves  -  01/08/22  -  10:30
O jogador se recusou a se submeter ao teste do bafômetro no local do acidente e na delegacia
O jogador se recusou a se submeter ao teste do bafômetro no local do acidente e na delegacia   Foto: Divulgação

De tempos em tempos o futebol registra casos tristes, das mais variadas dimensões. Vão de simples indisciplinas a tragédias de grande repercussão. Na essência, estão o baixo nível cultural, falta de profissionalismo, total ausência de comprometimento com a carreira e, principalmente, imaturidade, além do deslumbramento por uma vida de facilidades, normalmente num grande contraste com a infância pobre.


O último episódio lamentável teve como protagonista o zagueiro Renan Victor, que estava emprestado pelo Palmeiras ao Bragantino. Ao amanhecer, aparentemente retornando para casa, perdeu o controle do carro, atropelou e matou um motociclista que se dirigia ao trabalho. No interior do carro os policiais encontraram uma garrafa de bebida alcoólica.


O jogador se recusou a se submeter ao teste do bafômetro no local do acidente e depois na delegacia, invocando o direito de não produzir provas contra si mesmo. Segundo informações preliminares, era visível seu estado de embriaguez. Horas mais tarde, mesmo preso em flagrante, fez um exame clínico e surpreendentemente o resultado foi negativo para álcool.


Posteriormente, mediante a garantia de que pagará uma fiança de cerca de R$ 242 mil, foi libertado e responderá o processo em liberdade. Guardadas as devidas proporções, caso semelhante ao que ocorreu com o atacante Edmundo, ex-Palmeiras, Vasco, Flamengo e muitos outros, que, em 1995, se envolveu num acidente de carro que matou três pessoas e deixou mais três gravemente feridas. O jogador chegou a ser condenado a quatro anos de prisão e até foi preso por duas vezes, mas, na prática, nada cumpriu e continuou livre, leve e solto. Os dois casos só perdem, em termos de gravidade, para o crime cometido pelo goleiro Bruno, ex-Flamengo, condenado pela morte brutal de Eliza Samudio. Só escapou da ocultação de cadáver, que prescreveu.


Em menor escala, comprovando também a falta de consciência profissional, houve os casos envolvendo o jovem Patrick de Paula, vendido pelo Palmeiras ao Botafogo, apesar do grande potencial técnico; o flagrante de Jô em uma balada, de costas para um aparelho de TV que exibia um jogo do Corinthians; e a cena do jovem Gabriel Veron, do Palmeiras, literalmente no gargalo, bebendo em uma festa, sem o menor pudor.


Coincidência ou não, Patrick e Veron foram vendidos e Jô foi demitido do Corinthians. Parece claro que, no caso dos dois jovens, o clube negociou para se ver livre de dois problemas, com históricos no próprio Palmeiras. Correm o risco, como muitos outros que surgiram e sumiram, de desperdiçarem uma grande oportunidade que a vida lhes deu.


O caso de Renan é mais grave. Independentemente do resultado do julgamento, poderá ficar definitivamente “marcado” e enfrentar uma onda de rejeição, como aconteceu agora com Robinho, condenado por estupro na Itália e em liberdade no Brasil. Vive, porém, enclausurado, sem perspectiva sequer de encerrar a carreira no campo.


Curiosamente, a priori, Renan deve ser indiciado por homicídio doloso, quando não há intenção de matar. Se o crime passar para doloso, irá a júri popular e poderá pegar até 20 anos de prisão. Numa decisão incomum, a juíza Simone Valle, a pedido do Ministério Público, determinou que a fiança estipulada seja imediatamente transferida para a viúva do motociclista Eliezer Pena, mãe de duas filhas. Tal decisão faz parte do que se conhece, em Direito Criminal, por “Justiça Restaurativa”, basicamente um conjunto de práticas que visa reparar danos causados a vítimas de crimes. Sem dúvida, uma decisão muito importante, porém, não elimina a falta do pai, a dor dos familiares e o próprio crime.


A solução para evitar que a história continue se repetindo, em seus diferentes graus, é um trabalho interno nos clubes para ensinar aos jovens talentos que carrões, alta velocidade, baladas, bebidas e dinheiro fácil são realidades efêmeras, temporárias, de curta duração. E que o final, para os inconsequentes, é quase sempre o mesmo. A outra opção é a punição exemplar nos clubes e na Justiça. A Europa tem bons exemplos nos dois campos.


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