No limite

A goleada sofrida pelo Santos para o Corinthians, por 4 a 0, no início da semana, merece uma reflexão mais profunda

Por: Marcio Calves  -  26/06/22  -  06:16
Santos foi goleado pelo Corinthians em jogo na última quarta-feira (22)
Santos foi goleado pelo Corinthians em jogo na última quarta-feira (22)   Foto: Matheus Tagé/AT

Independentemente do resultado do jogo deste sábado (25), a goleada sofrida pelo Santos para o Corinthians, por 4 a 0, no início da semana, merece uma reflexão mais profunda. É inegável que o velho rival da Capital é bem superior tecnicamente, porém, chamaram a atenção a apatia e a passividade dos jogadores santistas.


Assim como ficou claro que faltou visão do treinador para tentar alterar o panorama tático, a partir da liberdade total ao ótimo jogador William e da fragilidade de marcação pelas laterais. Pelo menos dois gols saíram em jogadas de ultrapassagem pelos lados do campo, comprovando erros de postura e de falta de atenção.


Como era esperado, a derrota provocou reações múltiplas, desde o técnico até o diretor executivo, Edu Dracena, além do presidente Andrés Rueda e, obviamente, dos torcedores. Cada um ao seu estilo e dentro da área de atuação. Ao dirigente maior coube a tradicional visita ao treino do dia seguinte e uma conversa com os jogadores, cobrando explicações, ainda que de forma protocolar.


Edu Dracena, segundo o que “vazou” do encontro, exigiu justificativas e destacou até a falta de comprometimento de alguns, num sinal de alerta de que a postura em campo tem que mudar completamente. O técnico Fábian Bustos foi mais enfático, extravasando sua revolta na entrevista pós-jogo, ainda na Neo Química Arena.


O treinador foi contundente, isentando apenas o goleiro João Paulo e o atacante Marcos Leonardo da responsabilidade maior pela fraca performance do time e, consequentemente, da goleada por 4 a 0. Tal declaração causou surpresa, via de regra os treinadores evitam expor publicamente seus atletas em nome da “preservação do ambiente”. Existem momentos, porém, em que é preciso ir além da tradicional “roupa suja se lava em casa”, de modo a dividir os encargos de uma derrota contundente. O risco, porém, é de a relação treinador/elenco se deteriorar e complicar o quadro, tornando insustentável a continuidade do convívio diário.


Nesse aspecto, não cabe mais demitir o técnico e contratar outro, as sucessivas trocas já mostraram que os maiores problemas são a qualidade técnica do elenco e as visíveis carências em posições ou setores fundamentais. É pública a falta de capacidade financeira do clube para viabilizar reforços sem comprometer a tal prioridade administrativa. Porém, é preciso estar atento à dificuldade que envolve o Campeonato Brasileiro.


Rigorosamente, como diz o torcedor, não há jogo fácil, principalmente no campo adversário. Uma ou duas derrotas consecutivas derrubam o time e o colocam na beira da zona do rebaixamento. O exemplo mais recente é o Coritiba, que já integrou o G-4 e agora está à beira do Z-4, com 16 pontos. E com um jogo a mais do que todos os concorrentes.


O Santos, além da derrota para o Corinthians, no período recente perdeu boas oportunidades de se manter no grupo da parte superior. Pior que o empate com o Bragantino, na Vila Belmiro, por 2 a 2, após abrir uma vantagem por 2 a 0, foi o nível de atuação da equipe no segundo tempo. A derrota só não ocorreu em razão de mais uma atuação espetacular do goleiro João Paulo, um dos melhores do Brasil na posição. Aliás, esse quadro tem sido constante, não fosse ele a situação da equipe nas três competições seria muito pior.


A Copa do Brasil, salvo um milagre, já era, assim como as cotas que vinham aliviando a vida do clube. Para levar a decisão para os pênaltis, o Santos precisará devolver os 4 a 0. Se a eliminação se confirmar, o prejuízo financeiro será de R$ 3,9 milhões, sem contar o que viria se o time continuasse avançando na competição.


Por fim, além de Rueda, Edu Dracena e Fábian Bustos, registrou-se mais um protesto dos torcedores, com ofensas e tradicionais ameaças físicas. Na sexta-feira, ao chegar a São Paulo para a concentração, visando o jogo de ontem, o ônibus com os jogadores foi cercado por grupos organizados, que impediram o desembarque e exigiram mais uma conversa direta com líderes do elenco.


Mais uma vez, infelizmente, os dirigentes cederam, rapidamente foi organizado um encontro na porta do hotel. Liberalidades como essa não resolvem o problema maior, o torcedor não tem esse direito. Sua área de atuação tem que ser restrita ao estádio e nos dias de jogos. Nas arquibancadas, de modo civilizado, podem fazer o que bem entendam.


Em síntese, apesar da campanha até razoável, a situação do Santos é preocupante, a falta de boas perspectivas é clara. Cobrar responsabilidade é sempre necessário, a questão é se há condições de resposta. Afinal, se ainda não atingiram, sem exceção, todos estão quase no limite.


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