Irascibilidade

Fanatismo e descontrole são as causas da invasão de campo e agressões por torcedores do Santos

Por: Marcio Calves  -  17/07/22  -  07:35
  Foto: Matheus Tagé/AT

Só mesmo o fanatismo e o descontrole emocional podem explicar as novas cenas de violência de alguns torcedores na Vila Belmiro, durante e após a partida contra o Corinthians, pela Copa do Brasil, na última quarta-feira. Inicialmente, foram os sinalizadores que atingiram a área corintiana, paralisando a partida e assustando o goleiro Cássio, a ponto de o jogo ser interrompido, como mandam a regra e o bom senso.


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Depois, encerrada a partida que eliminou o Santos, apesar de ter vencido por 1 a 0 (no jogo de ida o time foi goleado por 4 a 0), veio a invasão de campo de alguns torcedores. Um deles só não atingiu Cássio em razão de uma rápida ação do atacante Marcos Leonardo, do reflexo do próprio goleiro e da rapidez dos seguranças.


A Vila Belmiro tem, infelizmente, história de cenas de violência e vandalismo protagonizadas por torcedores. Já teve até invasão de campo estimulada por dirigente inconformado com a derrota do Santos. Nessa ocasião, o acesso ao campo foi praticamente liberado, facilitando a entrada no gramado para os fanáticos “fazerem justiça”.


No Brasil, lamentavelmente, de tempos em tempos as cenas se repetem nas arquibancadas e fora dos estádios. Ações preventivas e campanhas não dão mesmo resultado, a falta de educação e civilidade parecem ser uma característica de uma boa parte dos torcedores. Talvez, na essência, consequência do baixo nível cultural.


Há muito a rivalidade deixou de ser sadia, natural e esportiva, se transformando em puro ódio, sem limites. Em alguns estados, a solução foi limitar os jogos a torcida única, na esperança de evitar a guerra entre os adversários das arquibancadas. Nem isso está dando certo, vários são os casos de brigas de grupos organizados que torcem pelo mesmo clube.


A opção por responsabilizar os clubes por invasões ou cenas de violência não tem sensibilizado os torcedores. Na verdade, punir a agremiação é até injusto, na medida em que nenhuma diretoria tem condições de controlar grandes públicos. O episódio registrado na Vila Belmiro comprova que o estádio e o esquema de segurança são vulneráveis e que os mais fanáticos não estão preocupados se o time sofrerá punições sérias, como perda de mandos de jogos e até interdição.


O prejuízo do Santos, sem dúvida, será grande, deverá ir muito além de uma grande multa. Pela legislação, o clube poderá perder o mando de até 10 jogos no Campeonato Brasileiro, ainda que o grave incidente tenha ocorrido numa partida pela Copa do Brasil. Se isso ocorrer, a equipe fatalmente terá grande dificuldade em garantir pelo menos uma campanha razoável na competição.


Felizmente, os torcedores foram identificados, presos e passaram a madrugada na delegacia prestando depoimento. Um deles, segundo consta, é até associado do clube e a diretoria garante que será eliminado do quadro associativo.


É o mínimo. O importante, porém, é que respondam criminalmente pelos atos praticados e que sejam definitivamente banidos do futebol. Há meios legais para impedir que voltem aos estádios, só assim será possível evitar que repitam tais atos. Somente com sanções exemplares se impedirá que um dia um desses atos termine em uma grande tragédia.


A Inglaterra é um bom exemplo de que é possível enquadrar até os mais fanáticos torcedores. Os hooligans, grupos que usam a violência para legitimar sua identidade, foram praticamente extirpados do futebol inglês, deixando de ser uma ameaça para o país e até para o continente europeu.


No Brasil, a questão é mais complexa, o fanatismo hoje não se limita ao futebol. Na politica o clima é igual ou pior do que nesse esporte. Não se pode mais debater idéias ou confrontar opiniões, a discussão pode terminar em ofensa ou tentativa de agressão, para dizer o mínimo.


A irascibilidade é quase geral. Educar é o ideal, mas o processo é lento e a resistência é grande.


E não dá mais para esperar.


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