A realidade

A contratação de Lisca para assumir o comando técnico do Santos não foi a melhor opção

Por: Marcio Calves  -  24/07/22  -  06:32
O melhor trabalho de Lisca foi no comando do América Mineiro
O melhor trabalho de Lisca foi no comando do América Mineiro   Foto: Alexsander Ferraz / AT

Com certeza, a contratação de Lisca para assumir o comando técnico do Santos não foi a melhor opção. Assim como não seria Guto Ferreira, primeiro nome lembrado pelo novo executivo do Santos, Newton Drummond. A base para definir um novo treinador tem que ser, preliminarmente, seu histórico de trabalho e, convenhamos, nenhum dos dois tem nada que os credencie para dirigir um time do porte do Santos. Ainda mais na fase atual.


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Felizmente, Guto Ferreira foi descartado rapidamente. Sem dúvida, seria apenas mais um a passar pelo clube por um curto período, até a primeira crise de resultados ou protestos mais contundentes de torcedores emocionais. A opção por Lisca, ou Luiz Carlos Cirne Lima de Lorenzi, gaúcho, foi até surpreendente, na medida em que estava empregado, trabalhando no Sport, e sua carreira não registra grandes sucessos nos chamados times de ponta.


Junte-se a isso seu estilo polêmico, tanto em atitudes como em declarações no dia a dia. Sua saída do Sport para o Santos foi muito tumultuada, provocando fortes críticas por parte do presidente do clube pernambucano. Afinal, estava iniciando um trabalho, há cerca de um mês no cargo. Literalmente, não respeitou nem o contrato assinado, num comportamento no mínimo desrespeitoso e antiprofissional.


Infelizmente, vale registrar, trata-se de uma postura quase comum no futebol brasileiro, tanto por parte dos clubes como dos treinadores. Muitos já caíram nesse Campeonato Brasileiro, o último, na sexta-feira, foi Turco Mohamed, do Atlético-MG, com pouco mais de seis meses no cargo. Para o seu lugar foi confirmado o retorno de Cuca, que deixou o time em dezembro, após campanha vitoriosa, conquistando o Campeonato Brasileiro depois de 50 anos.


Cuca, porém, tem história dentro e fora do campo, além de experiência em trabalhar em grandes clubes. Lisca, em seu passado recente, além do Sport, trabalhou no Vasco da Gama, América-MG, Ceará, Criciúma e Guarani, dentre outros. No clube carioca, ainda nessa temporada, ficou 12 jogos, com apenas quatro vitórias, um empate e sete derrotas.


Teve relativo sucesso apenas no América-MG, quando garantiu o acesso do time à Séria A, em 2021, e foi vice-campeão de Minas Gerais. Depois, no Juventude, conseguiu levar a equipe da Série C para B e, no Ceará, evitou o rebaixamento do time em 2018. Inegavelmente, há uma grande diferença entre comandar times considerados grandes, como o Santos, e outros que na prática são sempre coadjuvantes.


O ideal, até para que o torcedor santista e a crônica esportiva conheçam um pouco mais sobre o perfil do novo diretor executivo do clube, é que sejam detalhados os critérios utilizados para a contratação de Lisca. Está mais do que claro que o problema maior do Santos é a falta de qualidade técnica do elenco, que tem vivido dos milagres do goleiro João Paulo, do grande potencial do atacante Marcos Leonardo e de atuações consistentes do zagueiro Eduardo Bauerman.


Desde Jorge Sampaoli, o Santos tem tido um técnico a cada cinco meses, com Cuca, Jesualdo Ferreira, Ariel Holan, Fernando Diniz, Fábio Carille e Fabián Bustos. Essa rotatividade demonstra, no mínimo, que a solução não está na troca dos treinadores, mas, sim, na gestão e visão do nível de futebol do clube.


A julgar por esse quadro, o ceticismo é inevitável. A opção por Lisca mais parece uma simples aposta, numa fase do jogo em que perder uma, duas ou três vezes pode levar a um grande prejuízo. No pôquer, por exemplo, para se apostar, tem que ter jogo, sem isso se paga caro. O ideal, para um all in, é ter uma boa quadra de ás. A outra opção é o blefe, cujo risco é ainda maior. O Santos, porém, não tem jogo.


Um experiente jornalista, conhecido também pelo apelido carinhoso de “simpático amigo”, cuja memória é privilegiada, disse essa semana que o Santos, cada vez mais, está se “apequenando”, se tornando menor quase que diariamente, apesar de sua história fantástica.


É a realidade.


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