Uma realidade paralela
Muitas vezes, criticamos certos serviços públicos sem conhecer a fundo sua realidade
Muitas vezes, criticamos certos serviços públicos sem conhecer a fundo sua realidade. Nos dois mandatos que exerci como vereador em Santos, tomei como hábito conhecer in loco a situação cotidiana do funcionalismo municipal. Vivenciei na pele a atuação de agentes da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), guardas municipais e operadores sociais (que cuidam das pessoas em situação de rua), entre outros profissionais. Não para registrar uma foto para a posteridade, mas para entender seu dia a dia, dificuldades e experiências.
Trouxe essa ‘mania’ para o mandato de deputado estadual. Entendo que, ao tomar conhecimento do papel diário desses trabalhadores, me sinto mais preparado para propor ideias, cobrar soluções e exigir melhores condições para o desenvolvimento dessas atividades.
Na semana passada, tive a oportunidade de passar um dia na companhia dos policiais ambientais que atuam na Baixada Santista. Meu espanto começou logo que cheguei a Guarujá, ao saber que apenas 24 homens – isso mesmo – são responsáveis por fazer o patrulhamento de todo o litoral paulista, do Vale do Ribeira até o Litoral Norte.
Em razão de um desconhecimento compreensível, as pessoas possuem a falsa noção de que à Polícia Ambiental cabe apenas preservar a flora e a fauna. Uma imagem superficial. Esses profissionais têm a missão de coibir a invasão de áreas de preservação ambiental, locais que, muitas vezes, são administrados pelo crime organizado.
São esses bravos homens que, na cara e na coragem, colocam suas vidas em risco a fim de salvaguardar outras vidas – as das pessoas que, por falta de opção, se instalam nessas localidades. Não é somente o meio ambiente que fica sob ameaça: tais moradores estão submetidos à falta de saneamento básico, vivem o perigo constante de incêndios devido a ligações de fios precárias, não contam com o mínimo de estrutura digna. É, na prática, um mundo à parte.
O Estado tem que assumir seu papel de possibilitar moradia por meio de programas habitacionais aos que necessitam, mas é imprescindível que a prática das invasões a áreas de proteção ambiental cesse. Não há chances de um efetivo com apenas 24 integrantes, por mais capacitado que seja, dar conta de um perímetro tão vasto. De que adianta a Polícia Ambiental retirar hoje uma família de um local irregular se, na semana seguinte, outras pessoas fixarem residência naquele mesmo terreno? É como enxugar gelo: um desperdício de tempo, força de trabalho e, pior, a certeza de que a estratégia está sendo inócua. Precisamos preservar o verde – mas também vidas.