O desafio das duas rodas
Investimento em ciclovias significa investir em mobilidade urbana, no meio ambiente e em qualidade de vida
Muito tem se falado sobre a importância de proteger as nossas florestas e o impacto que os danos às nossas matas podem representar ao meio ambiente a curto, médio e principalmente longo prazos.
Contudo, as discussões acerca da emissão de poluentes foram deixadas um pouco de lado, como se fosse um assunto já superado, mas, infelizmente, não é. A frota de veículos que circulam hoje no país ultrapassa 43 milhões, o que é um número muito alto, que traz prejuízos ao trânsito, ao meio ambiente, mobilidade urbana, à circulação de pedestres, devido à quantidade de carros estacionados em todo e qualquer ponto das cidades, esgotamento das vagas para estacionamento, entre outros. Nesse cenário, uma velha conhecida de todos nós, a bicicleta, surge como uma forte aliada da população.
A bicicleta não polui, não congestiona o trânsito, é um meio de transporte econômico, fácil de estacionar e que ainda contribui para uma vida mais saudável, auxiliando no condicionamento físico, diminuição de doenças cardíacas, queima de gorduras, e muito mais. Aí nos perguntamos: mas se é tão bom, porque poucos usam? A resposta é simples. Porque falta uma questão fundamental, o poder público criar mecanismos que viabilizem e incentivem o deslocamento usando a bicicleta.
Atualmente, no Brasil, a malha cicloviária das capitais é um pouco mais de 3 quilômetros. O número é muito aquém do necessário, pois as ciclovias correspondem a apenas 3,1% da malha viária total das cidades, que é de 107 mil quilômetros. O Brasil tem uma média de 15 mil habitantes para cada quilômetro de ciclovia.
Na Baixada Santista, o cenário não é muito diferente. Hoje, a malha cicloviária regional é de 325 quilômetros, com um projeto de expansão em 18,5% nos próximos anos, indo para 385 km.
Ainda estamos muito atrás de cidades com mesmo perfil turístico e climático que a nossa. Praia Grande, que tem o maior número de ciclovias, possui hoje 95 km de faixas exclusivas a ciclistas. Santos tem 47,1 km e registra 1,4 habitante por veículo, ou seja, é uma das cidades mais motorizadas do país, e tem como desafio seguir trabalhando na redução desse percentual.
São Vicente possui apenas 12 quilômetros de malha cicloviária e um projeto de ampliação em pauta. Já Guarujá, onde cerca de 120 mil pessoas utilizam bicicletas para a sua locomoção diariamente, a população conta com 60 km de ciclovias.
Cada prefeito tem procurado, mesmo diante das dificuldades, fazer a sua parte, mas falta integração entre as cidades. Vivemos em uma região metropolitana com economia e serviços bastante interligados, por isso, é fundamental que o deslocamento através da ciclovia entre cada um dos municípios seja interligado também.
Segundo a Pesquisa de Origem Destino Domiciliar, da EMTU, as nove cidades da Região Metropolitana da Baixada Santista contavam, em 2012, com 574 mil bicicletas, representando 330 para mil habitantes. O levantamento demonstrou que, diariamente, eram realizadas 2,1 milhões de viagens entre as cidades regionais, sendo 15% delas realizadas por bicicletas (303 mil por dia).
Investimento em ciclovias significa investir em mobilidade urbana, no meio ambiente e em qualidade de vida. Falta um olhar diferenciado do poder público para esta questão. Os ciclistas reivindicam não só o aumento da malha cicloviária, mas também mais segurança e a criação de novas formas de integração das vias com outros modais.
No exterior, existem modelos muito interessantes de integração de bicicleta com ônibus, com metrô e com trem, como em cidades como Amsterdã, Barcelona e Munique, por exemplo. Você pode percorrer parte do trajeto de bicicleta e depois pode carregar a bicicleta junto com você. Aqui na região da Baixada Santista, e também em São Paulo, são pouquíssimos ônibus que aceitam a bicicleta. O poder público precisa investir e estimular essa integração com o transporte público, e nós estamos comprando essa briga e levantando essa bandeira.
O Senado Federal aprovou em setembro do ano passado um Projeto de Lei (PL) que destinaria 15% da arrecadação de multas de trânsito para apoiar estados e municípios na construção de ciclovias, ciclofaixas e sistemas cicloviários urbanos, bem como na instalação de bicicletários públicos.
O chamado Programa Bicicleta Brasil (PBB), se não tivesse recebido veto da Presidência da República para a destinação de percentual dos recursos das multas para políticas públicas voltadas aos ciclistas, receberia em média investimento de cerca de R$ 1,3 bilhão, que representa 15% do total de R$ 9 bilhões anuais arrecadados com multas de trânsito, segundo aponta o Departamento Nacional de Trânsito (Denatran).
No que depender de mim, os ciclistas ganharam um forte aliado no Congresso Nacional para esta causa tão importante. Na condição de vice-presidente da Frente Parlamentar em Defesa dos Direitos dos Ciclistas, assumi o compromisso de encampar essa bandeira e trabalhar em prol dessa causa, ampliando as discussões, dando visibilidade às reivindicações do grupo e buscando recursos para investir em políticas públicas voltadas aos direitos dos ciclistas.