Baile Funk: brincadeira ou pesadelo
No jornal de segunda, A Tribuna noticiou os sérios problemas causados aos moradores quando da realização de um baile funk no Morro São Bento: drogas, armas, insegurança
Um rápido mergulho no cenário, onde o hit do “pancadão “, elaborado por DJs e MCs, rompem caixas de som no embalo frenético de quadris rebolantes até o chão, decifra que a periferia do morro tomou conta do asfalto das classes mais altas. Isso nos faz parar para refletir quanto esse fenômeno está atingindo nossa sociedade e cultura.
No jornal de segunda, A Tribuna noticiou os sérios problemas causados aos moradores quando da realização de um baile funk no Morro São Bento: drogas, armas, insegurança.
As boas línguas dirão que esse estilo musical (“funk”), qualificado como Patrimônio Cultural desde 1988, fato bastante questionado, veio não somente para movimentar o mercado fonográfico, mas, ainda, para gerar empregos e levar o adolescente de classe baixa a ter um convívio social mais saudável.
No entanto, o que está por detrás desse ritmo alucinante, com letras de pura conotação sexual? Independentemente de o baile ser em salão ou na rua, periferia ou não, os maus relatos são muitos: desde organizadores realizando eventos sem autorização do Poder Público; passando por venda de drogas; uso de bebidas alcoólicas por menores de idade; desrespeito com a vizinhança; e, ao meu ver, o pior de tudo, letras que, vindo do lado negro da favela, implicam apologia ao tráfico, crime e sexo. Esse quadro se complica superlativamente se considerado que o baile funk abriga gigantesco número de adolescentes, que estão na fase de formação sócio-cultural.
Vale lembrar que, em 2017, Romário chegou a mandar uma proposta para o Senado, com 20.000 assinaturas, para varrer do país os bailes funk, o que resultou em nada. Mas será esse o caminho? Eliminar os eventos?
Devemos lembrar que esses bailes tem raízes profundas, já que sua origem está no jazz e na black music, com uma mistura do ingrediente sexual e ritmo intenso. O funk surge, então, com uma identidade marcante e única.
Partindo desse pressuposto, tentar eliminar isso é enxugar gelo. O que fazer, então?
Crucial, primeiramente, levarmos para as escolas públicas mais educação de cunho civil, de modo a mais bem orientar os jovens quanto à sexualidade e o convívio social. O aprimoramento da segurança pública, com a intensificação da atividade policial também se faz necessário, de modo que a força pública se antecipe ao evento, ocupando e ordenando o espaço a ser utilizado. Seria interessante, inclusive, a liberação de espaço pelo governo local, que atenda as exigências e normas de segurança, a exemplo dos sambódromos, com encargo de os próprios organizadores administrar o acontecimento, mediante a possibilidade de serem responsabilizados por eventuais consequências nefastas.
Essa receita resolverá os problemas? Totalmente não, mas poderá, ao poucos, mudar a visão da sociedade, dando ao jovem a oportunidade de aproveitar o baile com a segurança que todo cidadão merece.
Não se pode esquecer que o Tango também começou marginalizado e, hoje, virou a marca de um país, movimentando expressivo valor monetário.