Zuleika, a surfista

Ela viveu e mantém até hoje o estilo de vida do surfe, e por isso foi uma das homenageadas do Dia do Surfista

Por: Gabriel Pierin  -  23/02/22  -  11:35
Zuleika Bento Nunes representa um marco brasileiro para o surfe entre as mulheres
Zuleika Bento Nunes representa um marco brasileiro para o surfe entre as mulheres   Foto: Arquivo Pessoal

Nascida em 1959, a santista Zuleika Bento Nunes foi criada na beira da praia. Praticante de natação desde os 2 anos, a menina nadou na piscina do Santa Cecília quando se mudou para o Boqueirão, aos 9 anos.


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Em 1970, passou a frequentar a praia na altura do Canal 2 e foi lá que começou a pegar umas ondinhas com pranchinhas de isopor e de madeira. Era ali, na frente do restaurante Olímpia, que a turma dos surfistas formada por Toninho, Catatau, Amarelo, Tortola, Luiz César, Marcos Tubo, Cláudio, Gadelha, Oracio, Limoeiro, Pestana, Bulina, Marcinho e Silveira, entre outros, ficava na praia e, entre uma queda e outra no mar, deixava as pranchas para Zuleika brincar.


Aos 13 anos, as coisas começaram a mudar quando conheceu Roseli Argento, prima dos famosos irmãos Argento, donos da marca Twin. Era lá no depósito da loja que ela conseguia pegar uns pranchões velhos e surfar as ondas do Itararé. A mãe, vendo o esforço da garota, resolveu comprar uma dessas pranchas. O longboard da Twin foi sua primeira prancha.


A distância até a praia da cidade vizinha e a rotina de uma jovem estudante aproximaram Zuleika de uma nova turma, mais perto de casa. O Canal 3 passou a ser seu pico de ondas e de amizades. Com as pranchas menores e o surfe mais veloz, ela recebeu o apoio de Hélio Coquinho, Wagner Cola, Marcelo Spinelli, dos irmãos Nei e Nilo, Sérgio e Geraldo Torquato, Tadeu, Luciano e Marcelo Gato, entre outros, para encarar os novos desafios.


Em 1973, Zuleika se enturmou com os skatistas do Canal 5 e aprendeu a nova mania. Foi com eles que ela conheceu o Guarujá e o pico de ondas perfeitas do Pernambuco. Nessa época, ela viu a primeira menina surfista, a Adna Cangiano.


No ano seguinte, vieram outras surfistas e novos points. Na Vila Militar do Canto do Maluf viviam a Rosana e outras duas meninas, no Tombo encontrou a Sabrina Patterson, filha do shaper Jhonny Rice, e as irmãs Minerva e Marquesa, e no Guaiúba surfavam as francesas Dominique e Natali, a Eliege Pavanelli e a Maria Parafina.


Os picos iam se revelando e o ponto alto aconteceu num lindo dia de sol nas Astúrias, quando Zuleika encaixou um tubo num mar de ondas grandes. As pranchas já não era mais um problema, mas o espaço no surfe, essencialmente praticado por homens, ainda parecia distante. Ela e outras quatro meninas resolveram furar essa bolha e fizeram uma bateria num dos campeonatos, e assim o surfe feminino organizado deu os primeiros passos.


Ela conheceu a Rosana Marques e a Nancy Carbone, irmã do shaper Neco Carbone. Era na casa da Rosana que eram produzidas as pranchas da Lightining Bolt. O lugar era um ponto de encontro da galera. Apesar disso, foi na fábrica do Patrô que Zuleika aprendeu e fez sua primeira monoquilha.


Na mesma época ela namorou o Antônio Maldi, o Tarzan do Tombo, e aquela praia passou a ser a sua casa, onde muita gente de Santos surfava lá, entre eles Paulo Rabello, João Benvenuto, Michael e Juninho Coca-Cola, Wagner Vovô, além dos locais como os irmãos Matos, Alemão Pezão, o Tinguinha ainda criança, o Zé Luis, e o Kareka, que se tornaria um shaper famoso. Foi Tarzan quem a levou a conhecer as ondas do Litoral Norte de São Paulo, como no Canto da Baleia, além de outros points secretos da época.


As surftrips avançaram para além do Estado. A partir de 1974, Zuleika passou a curtir as férias no Rio e surfava em Ipanema, Arpoador e Prainha, vivendo a efervescência da antiga capital federal e dos seus arredores, como os festivais de Saquarema.


Aos 18 anos, com carta de motorista e um Fusquinha, a jovem ganhou ainda mais liberdade e a Rio-Santos, apesar de precária, era o caminho para novas aventuras e descobertas.


A corajosa Zuleika viveu e mantém até hoje o estilo de vida do surfe, e por isso foi uma das homenageadas do Dia do Surfista, realizado em 21 de janeiro, pelo seu vanguardismo e contribuição ao surfe.


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