O oceano de Alex Du Mont

A paixão pelo mar começou com o pai, o pescador Rudolf, encantado pela pesca em Bertioga

Por: Gabriel Pierin  -  02/08/22  -  06:52
Na esquerda, Krister, Alex Du Mont e Lars; à direita, Jan Jensen, Piu e Sérgio Duque
Na esquerda, Krister, Alex Du Mont e Lars; à direita, Jan Jensen, Piu e Sérgio Duque   Foto: Arquivo Pessoal

Tudo começou quando os pais de Alex, os imigrantes alemães Rudolf e Úrsula, construíram uma casa em frente à praia de Bertioga, próximo ao Hotel e Restaurante 27. As viagens da família para o litoral começaram em 1954 e eram uma verdadeira saga, num tempo em que o trajeto se dava pela Estrada Velha e terminava com a travessia de balsa do Guarujá até Bertioga. Alex Schmitz Du Mont nasceu em São Paulo, em 24 de novembro de 1952 e estudou nos colégios Porto Seguro e Santa Cruz, ao lado de muitos surfistas como Christian Frutig, Roberto Neco Stickel, Paulo Christian e Mario Marcos Orcesi da Costa.


Quando ainda moleque, Alex brincava nas ondas com sua tabuinha de madeira. Depois, apareceram os madeirites da Procópio, mas o salto veio com os modelos MK1 e MK2 da Glaspac. Aliás, foi da empresa pioneira paulistana que Alex ganhou seu maior apoio e incentivo. O tio Donald Pacey e seu sócio de Gerry Cunningham eram os donos da Glaspac, a primeira empresa do Estado fabricante de pranchas fibra de vidro. Alex também surfou com os amigos Max Ribeiro Barbosa, Maurízio Daelli, Nassib, Bolívar Barbanti e Rimandas Krisciunas. A turma de Bertioga surfou pela primeira vez o canto direito de São Lourenço, quando havia somente um sapezinho e duas canoas na praia, em 1966.


Na Ilha de Santo Amaro, eles também surfaram na Prainha e Iporanga. Mais velhos, já de carro, desbravaram novas praias no litoral de São Paulo. Na Praia Preta, encontrou o pessoal do Iate Clube Santo Amaro. Antes de surfar, Alex velejava de pinguim e conhecia aquela turma heterogênea, formada por suíços e alemães que frequentavam o clube. Nessa praia, ele experimentou um dos mais inesquecíveis swells entrando na Laje do Cabuçu. Também foi velejando que ele conheceu o mergulho no Montão de Trigo e presenciou, numa das pontas no Montão, uma formação perfeita de ondas.


Quando a faculdade chegou na sua vida em 1970, Alex se mudou para o Guarujá para cursar Oceanografia e passou metade do curso na praia, literalmente explorando o oceano em suas ondas. O paulistano surfou o Guarujá com Paulo Zanoto, Egas Muniz, os irmãos Thyola e Madinho, Sidão, Carlinhos Tenucci Mota, Lalado, Brito, Magoo e Teixeira, entre outros, além da companhia dos amigos da Escola Americana, como Mark Lund, Steve Smith e Justin. Essa era a tribo da Capital que se formou no Guarujá, ao lado dos locais Silvinho, Pardal, Boi, Preto, Piolho, Gonzalez, e também dos santistas e vicentinos que faziam a travessia para pegar onda.


Com um pouco mais de idade, Alex pôs os pés na estrada. Ao sul, conheceu Imbituba e as praias da Ilha de Florianópolis. Com o mar pesado e as ondas grandes catarinenses, o surfista reuniu coragem para encarar as primeiras viagens ao exterior. Inicialmente, desbravou o Peru, de sul a norte, onde estabeleceu laços de amizade com grandes nomes internacionais do surfe e fez seu batismo em ondas acima de 12 pés.


Entre os anos de 1977 e 1980, se fixou na Praia Brava, em Santa Catarina, e manteve uma empresa de pesca em Cabeçudas. Lá, começou uma nova paixão, o windsurfe, num windglider produzido pelo Christian Frutig, o Cháni. Em 1980, ele encontrou o amigo sueco Krister Wenzen, dono da Schooner Smuggler e das lojas Smuggler. Wenzen tinha um casco de um camaroeiro de 80 pés que foi transformado numa escuna. Com ela, a tripulação formada por Alex, Wenzen, Paulinho Piu Guinle, Lars Kreuger, Jan Jensen e Sérgio Duque partiu do sul, carregou o barco no Rio de Janeiro e seguiu até o Caribe, Estados Unidos e Espanha.


A viagem pela costa brasileira revelou lugares nunca antes surfados. Alguns são secret points, guardados a sete chaves pelos navegadores. No Caribe, surfaram ondas fantásticas, que reagiam à chegada e à saída dos furacões, quando o mar subia e formava ondas perfeitas. Dali fez sua pós-graduação na Flórida, Estados Unidos. Ele visitou o amigo Mike Tabeling, que o apresentou ao surfista Jeff Crawford. Alex surfou Cocoa Beach e as ilhas abaixo das Bahamas.


O oceanógrafo foi convidado a começar uma fazenda marinha em Angra dos Reis, no Rio de Janeiro. Morando em frente à Praia da Joatinga, tornou-se local e surfou muito ao lado de antigos amigos e shapers do Rio, como Yso Amsler, Miçairi, Wanderbill e Jackola, entre outros. Viveu os anos dourados do Arpoador, do Píer de Ipanema e da descoberta da Prainha, Macumba, Recreio, Saquarema, Restinga da Marambaia, além das praias da Ilha Grande, como Lopes Mendes, Andorinhas e Praia Sul.


Com a oceanografia batendo cada vez mais forte, Alex desenvolveu e dirigiu projetos como a Ondaa e a ONG Surfrider Foundation. Alex continuou surfando, mas foi velejando que chegou mais longe, disputando campeonatos nacionais, sul-americanos, pré-olímpicos e mundiais.


A paixão pelo mar começou com o pai, o pescador Rudolf, encantado pelas condições da pesca esportiva na pacata Bertioga e nos seus arredores, como o Rio Itapanhaú. Alex sentiu desde cedo o gosto salgado e vivo da água do mar e a relação natural do ser humano com o oceano, um mundo que reúne os elementos essenciais para a vida, como o sol, o vento e a terra, integrados ao verdadeiro espírito Aloha.


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