Helio Cokinho do Boqueirão

O menino agarrava no pescoço do pai em seus primeiros mergulhos no paraíso

Por: Gabriel Pierin  -  24/05/22  -  06:40
  Foto: Ilustração: MariFuwax

Filho de Simplício e Julieta, Helio Silva de Oliveira nasceu em Santos, em 1956. O pai era embarcado na Marinha e um experiente mergulhador. A afinidade pelo mar aproximou os dois em inesquecíveis passeios nas águas calmas do Canal da Bertioga. Dali surgiram suas aventuras com o mar. O menino agarrava no pescoço do pai em seus primeiros mergulhos no paraíso.


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Por volta de 1961, a mãe trabalhou para “seu” Dondinho e dona Celeste, pais de Pelé. O Rei já tinha conquistado o mundo na Copa da Suécia de 1958 e o menino passeava na praia do Canal 5 em companhia da irmã do astro, Maria Lúcia.


O surfe apareceu aos 7 anos. Na ocasião, a mãe trabalhava nas casas das famílias Consone e Alonso na Rua Colômbia, no bairro do Boqueirão. Ali perto existia a mercearia Carioca, dos irmãos Silvares, na esquina das ruas Oswaldo Cruz e Epitácio Pessoa. Eles tinham pranchas de madeirite e depois passaram para as de fibra de vidro da Glaspac. Foi o primeiro contato de Helinho com pranchas de surfe.


O menino vivia na Praia do Boqueirão. Em frente à rua Ângelo Guerra, ele e o amigo João pegavam onda com as pranchinhas Alaia, pequenas tábuas de madeira com abertura para as mãos. Mas o que atraía mesmo a atenção de Helinho eram os surfistas descendo as ondas do fundo com suas madeirites ou caixas de fósforo. Em especial Allan Torrecillas e Lacraia, exímios surfistas. Inspirados por eles, os garotos se lançaram nas pranchinhas de isopor da Planondas e até conseguiam ficar de pé para surpresa dos mais experientes, que vibravam com a habilidade da molecada.


Da Praia do Boqueirão, Helinho foi em direção ao Canal 3. Quando tinha 12 anos, as pranchas de fibra começaram a se popularizar. Ele começou a andar com a turma grande que se formou em torno do Big Kahuna Surf Club, entre eles Allan, Miguel Sealy, Pitito, Durval, Vaselina, Pardal, Zizi, Timó, Ucho e Paulo Carvalho.


Depois começaram suas incursões em direção ao Canal 1 e Itararé. As caronas para o Guarujá também surgiram nessa época. Em 1969, o pico era em frente ao Clube da Orla, nas Pitangueiras. Ali ficavam os pioneiros do Guarujá, entre eles, o Udo, os irmãos Barsotti, o Rui Gonzalez, entre outros.


As travessias eram feitas na famosa Kombi do Elyseu. A barca do arquiteto que partia de São Vicente com o Nelsinho, Vicente Ferraro e o Longarina, pegava a galera do Canal 3 e atravessava para o Guarujá. Quando não tinha a Kombi, o trajeto era feito a pé pela Avenida Adhemar de Barros, entre os manguezais, até a selvagem Praia do Tombo ou do Sobre as Ondas.


Em 1972, aos 16 anos, Helio Cokinho partiu para um campeonato no Rio de Janeiro com o amigo, Antônio Cabeleira, filho de um juiz e sobrinho de um desembargador. Assim, conseguiram uma autorização para a viagem interestadual de ônibus. Foram altas ondas no Píer de Ipanema.


Em meados na década de 1970, o Wady e o Fuad Mansur abriram uma loja no Rio que virou base de apoio para os santistas. Helio surfou as ondas pesadas e tubulares na Barra da Tijuca, no Posto 5, no Arpoador e finalmente Saquarema.


Por volta de 1975, Helio Cokinho começou a lixar pranchas e realizar consertos para Lightining Bolt do Thyola e Mark Jackola. A sua técnica foi se apurando com as referências do havaiano e de outros grandes shapers, os maiores do mundo, como o carioca Wanderbill, Glenn Minami, Eric Arakawa e Barry Kanaiupuni, rei de Sunset e shaper da Lightining Bolt internacional. A oficina chegou na casa da Rosana Marques e Helinho evoluiu como shaper da marca, reconhecido pelos gringos como Helio Coconut.


Nessa época Helio Cokinho morava na Rua Lobo Viana. Em frente da casa ficava o estacionamento da empresa de ônibus Expresso Brasileiro. Ele acompanhou a transformação daquele imenso espaço no tradicional Super Centro Comercial do Boqueirão.


Helio reconhece a ajuda do seu vizinho ilustre: o empresário Milton Teixeira. A relação entre eles começou ainda na casa do extinto Colégio Monte Serrat, que abrigava uma piscina semiolímpica. Com a permissão de Milton, os técnicos Bagdá e Paulo Paranaguá treinavam o então estudante Helio Cokinho. O Santa Cecília apoiou o garoto com seus estudos do ginásio até a Faculdade de Artes Plásticas. Foram além. Quando adquiriu o terreno ao lado do Hospital Guilherme Álvaro, o Santa cedeu parte do espaço para Helio fazer suas primeiras pranchas, impulsionando a futura carreira profissional do surfista. Ali, em parceria com o Wagner Colla surgiu a marca Brazilian Expression, em 1978.


O seu apelido veio das peripécias de moleque. A habilidade em pegar os frutos dos coqueiros das mansões da Praia do Pernambuco rendeu mais do que a correria quando era surpreendido pelos caseiros. Helio Coconut virou marca e símbolo de um shaper que carrega uma história de sucesso.


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