Aloha Mário Bração
A trajetória do shaper mais antigo do Brasil em atividade, Mario César Brant Correa
Shaper mais antigo do Brasil em atividade, Mario César Brant Correa, o Mario Bração, nasceu em 1945, em Belo Horizonte. Irmão do também surfista, José Carlos Brant, o Piuí, Mario chegou ao Rio com a família em 1956. Aos 11 anos, o menino se viu morando na Joaquim Nabuco, a dois quarteirões do Arpoador, quando os primeiros movimentos de surfe estavam começando, por iniciativa da turma da caça submarina.
As primeiras pranchas de madeira ficaram conhecidas como “Porta de Igreja”, num jeito carioca de inventar o surfe brasileiro. Tempos depois as pranchas de madeirite, fabricadas na Ilha do Governador pelo Moacir, ganharam forma, bico envergado e quilha.
Na década de 1960, os surfistas-modeladores começaram a ter contato com materiais sintéticos e tornaram-se shapers. Arduíno fabricou sua própria prancha no calçadão do Arpoador, deixando à mostra para a juventude entusiasmada com a criação. Outros também seguiram na mesma onda. O Irencyr Beltão, “Barriga”, acabou produzindo uma na sala de sua casa. Ao mesmo tempo, Jorge Bally, o Persegue, com a ajuda de Mario Bração, fabricou uma prancha com resina. Era tão rudimentar que o produto químico foi espalhado com as próprias mãos.
A grande revolução do surfe carioca aconteceria somente em 1964, num dia nublado de ondas pequenas no Pontão do Arpoador, quando a atenção de todos se voltou para um jovem de cabelos compridos. Era o australiano Peter Troy em visita ao Brasil. O gringo se aproximou da molecada e pediu uma das pranchas de madeirite.
Todos ficaram atentos aos movimentos do surfista. Peter remava sobre a prancha para pegar a onda, diferente dos outros que tomavam impulso com o pé de pato. Curioso, Arduíno Colassanti quis saber mais sobre o estrangeiro. Peter explicou que voltava de um campeonato do Peru, vindo pela Amazônia. Ele estava bastante debilitado, pois contraiu malária. O pai do Barriga era médico e ofereceu tratamento.
Restabelecido, Peter pegou a prancha do Arduíno e surfou no Canto do Recreio. Numa onda enorme, ele caiu e a prancha rodou, destruindo toda a laminação. Peter acenou para o dono da prancha e devolveu com um “Sorry, man!”. Já com a prancha do Persegue, Peter deu um show no Posto 6, em Copacabana. Nessa mesma época o Russel trouxe uma Bing Surfboards dos Estados Unidos. A prancha chegou até o Peter e o Arpoador virou o palco de uma grande exibição do australiano. Aquele dia decretou a morte das madeirites.
O ano de 1964 provocou novas descobertas e desafios. Um deles foi o achado da Prainha. Nem se sabia da existência dela. Eles estavam em seis surfistas - Mario, Geraldo Fonseca, Persegue, Arduíno, Armando Serra e Alexandre Fritz - e foram até a Praia da Macumba. O Arduíno tinha uma Land Rover e eles resolveram explorar o lugar. Depois de subir a encosta, avistaram o mar, mas não tinha mais como avançar. À frente havia uma pirambeira e eles pararam ali mesmo. O Armando tinha sua prancha e as outras duas foram disputadas na sorte. Mario e Persegue venceram no par ou ímpar contra o Arduíno e o Geraldo. Eles desceram a primeira onda da Prainha, um para a direita e outro para a esquerda. O mesmo aconteceu nas Praias da Guaratiba e Saquarema, picos de surfe descobertos pela turma e que se difundiu muito rápido no Arpoador.
Os diferentes materiais e desenhos atraíram Mario Bração para a arte de fabricar pranchas. Ele trabalhou para marcas conhecidas como a São Conrado Surfboards e a Cyro Surfboards, quando uma nova revolução aconteceria em 1967. O surfista Penho tinha voltado do Havaí e trouxe uma mini model (7.4 pés), enquanto a turma ainda usava pranchões de 10 pés. Depois de pegar a primeira onda, Mario entendeu que aquele era o futuro das pranchas e criou sua própria fábrica.
Ele e o Penho passaram a produzir pranchas num apartamento em Ipanema. Penho tinha sua marca, a Pacific, e Mario, a Aloha Mario Surfboards. A marca prosperou e o shaper contratou um laminador, o Marcelo Israel, e mudou-se para a Barra.
Mario participou de alguns campeonatos e se esmerou na arbitragem. Julgou os primeiros Festivais de Surfe de Ubatuba e da Ala Moana, e chegou até o IPS, o embrião do WSL.
Mario Bração continuou shapeando. Ele casou-se em 1974 com Beatriz, irmã do surfista Geraldo Fonseca. Os dois tiveram três filhos e adotaram a Aurora. Viúvo de Beatriz, Mario casou-se novamente com Cláudia, com quem vive até hoje.