Aloha Mário Bração

A trajetória do shaper mais antigo do Brasil em atividade, Mario César Brant Correa

Por: Gabriel Pierin  -  19/07/22  -  06:09
Mário Bração é o mais antigo shaper em atividade no Brasil
Mário Bração é o mais antigo shaper em atividade no Brasil   Foto: Reprodução

Shaper mais antigo do Brasil em atividade, Mario César Brant Correa, o Mario Bração, nasceu em 1945, em Belo Horizonte. Irmão do também surfista, José Carlos Brant, o Piuí, Mario chegou ao Rio com a família em 1956. Aos 11 anos, o menino se viu morando na Joaquim Nabuco, a dois quarteirões do Arpoador, quando os primeiros movimentos de surfe estavam começando, por iniciativa da turma da caça submarina.


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As primeiras pranchas de madeira ficaram conhecidas como “Porta de Igreja”, num jeito carioca de inventar o surfe brasileiro. Tempos depois as pranchas de madeirite, fabricadas na Ilha do Governador pelo Moacir, ganharam forma, bico envergado e quilha.


Na década de 1960, os surfistas-modeladores começaram a ter contato com materiais sintéticos e tornaram-se shapers. Arduíno fabricou sua própria prancha no calçadão do Arpoador, deixando à mostra para a juventude entusiasmada com a criação. Outros também seguiram na mesma onda. O Irencyr Beltão, “Barriga”, acabou produzindo uma na sala de sua casa. Ao mesmo tempo, Jorge Bally, o Persegue, com a ajuda de Mario Bração, fabricou uma prancha com resina. Era tão rudimentar que o produto químico foi espalhado com as próprias mãos.


A grande revolução do surfe carioca aconteceria somente em 1964, num dia nublado de ondas pequenas no Pontão do Arpoador, quando a atenção de todos se voltou para um jovem de cabelos compridos. Era o australiano Peter Troy em visita ao Brasil. O gringo se aproximou da molecada e pediu uma das pranchas de madeirite.


Todos ficaram atentos aos movimentos do surfista. Peter remava sobre a prancha para pegar a onda, diferente dos outros que tomavam impulso com o pé de pato. Curioso, Arduíno Colassanti quis saber mais sobre o estrangeiro. Peter explicou que voltava de um campeonato do Peru, vindo pela Amazônia. Ele estava bastante debilitado, pois contraiu malária. O pai do Barriga era médico e ofereceu tratamento.


Restabelecido, Peter pegou a prancha do Arduíno e surfou no Canto do Recreio. Numa onda enorme, ele caiu e a prancha rodou, destruindo toda a laminação. Peter acenou para o dono da prancha e devolveu com um “Sorry, man!”. Já com a prancha do Persegue, Peter deu um show no Posto 6, em Copacabana. Nessa mesma época o Russel trouxe uma Bing Surfboards dos Estados Unidos. A prancha chegou até o Peter e o Arpoador virou o palco de uma grande exibição do australiano. Aquele dia decretou a morte das madeirites.


O ano de 1964 provocou novas descobertas e desafios. Um deles foi o achado da Prainha. Nem se sabia da existência dela. Eles estavam em seis surfistas - Mario, Geraldo Fonseca, Persegue, Arduíno, Armando Serra e Alexandre Fritz - e foram até a Praia da Macumba. O Arduíno tinha uma Land Rover e eles resolveram explorar o lugar. Depois de subir a encosta, avistaram o mar, mas não tinha mais como avançar. À frente havia uma pirambeira e eles pararam ali mesmo. O Armando tinha sua prancha e as outras duas foram disputadas na sorte. Mario e Persegue venceram no par ou ímpar contra o Arduíno e o Geraldo. Eles desceram a primeira onda da Prainha, um para a direita e outro para a esquerda. O mesmo aconteceu nas Praias da Guaratiba e Saquarema, picos de surfe descobertos pela turma e que se difundiu muito rápido no Arpoador.


Os diferentes materiais e desenhos atraíram Mario Bração para a arte de fabricar pranchas. Ele trabalhou para marcas conhecidas como a São Conrado Surfboards e a Cyro Surfboards, quando uma nova revolução aconteceria em 1967. O surfista Penho tinha voltado do Havaí e trouxe uma mini model (7.4 pés), enquanto a turma ainda usava pranchões de 10 pés. Depois de pegar a primeira onda, Mario entendeu que aquele era o futuro das pranchas e criou sua própria fábrica.


Ele e o Penho passaram a produzir pranchas num apartamento em Ipanema. Penho tinha sua marca, a Pacific, e Mario, a Aloha Mario Surfboards. A marca prosperou e o shaper contratou um laminador, o Marcelo Israel, e mudou-se para a Barra.


Mario participou de alguns campeonatos e se esmerou na arbitragem. Julgou os primeiros Festivais de Surfe de Ubatuba e da Ala Moana, e chegou até o IPS, o embrião do WSL.


Mario Bração continuou shapeando. Ele casou-se em 1974 com Beatriz, irmã do surfista Geraldo Fonseca. Os dois tiveram três filhos e adotaram a Aurora. Viúvo de Beatriz, Mario casou-se novamente com Cláudia, com quem vive até hoje.


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