A Energia de Lipe Dylong

Ele começou como surfista e depois virou um dos empresários do ramo

Por: Gabriel Pierin  -  07/06/22  -  06:51
Lipe Dylong começou como surfista e depois virou um dos empresários do ramo
Lipe Dylong começou como surfista e depois virou um dos empresários do ramo   Foto: Arquivo Pessoal/Lipe Dylong

Era no carro do tio que o carioca Lipe Dylong, nascido em 5 de dezembro de 1956, passeava até o Arpoador. Das pedras, ele vislumbrou pela primeira vez os longboarders correndo as ondas atrás do pontão. O menino tinha menos de 10 anos, pequeno para aquelas façanhas, mas já decidido de que um dia iria desafiá-las.


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Algum tempo depois, por volta de 1968, Lipe tornou-se amigo de outros meninos do Arpoador. Essa geração ficou conhecida como Metralhinhas. Naquela época, ainda não existiam as cordinhas, então os pranchões rolavam até o raso. Era quando a molecada oportunamente tomava as pesadas pranchas, virava rapidamente em direção à praia, pegava o estourão e surfava até a beira d’água. O dono da prancha vinha do fundo já xingando, mas acabaram apadrinhando a garotada.


A primeira prancha de Lipe foi uma minimodel Cyro Surfboards, marca do shaper carioca Cyro Beltrão. Foi ela que despertou seu talento como fabricante. A prancha quebrou o bico e, sem dinheiro para o conserto, Lipe deu uma nova forma a ela.


Em 1971, Lipe mudou-se para a Rua Teixeira de Melo, quando o Píer de Ipanema começou a ser construído. Sob o píer passava um emissário submarino, mudando a morfologia do solo e impactando nas ondas. Da varanda do apartamento, Lipe via o backdoor quebrando. Com o tempo, a movimentação dos bancos de areia diminuiu as ondas no Arpoador. Os surfistas da Turma da Lagoa foram os primeiros a experimentar as ondas do Píer. Eles subiam a Vinícius de Moraes, antiga Montenegro, até o Arpoador. No meio do caminho, eles encontraram o novo pico de ondas.


Naquele início da década de 1970, o movimento hippie e da contracultura atraía artistas, atores e músicos, criando um espaço multicultural, com Evandro Mesquita, Caetano Veloso, Ney Matogrosso, Gal Costa, entre outros. Surfistas de diversas origens e lugares formaram no novo pico, como os santistas da família Mansur, Hélio Cokinho, entre outros, fortalecendo os laços entre cariocas e santistas, pioneiros do surfe brasileiro. O Rio também era invadido pelos surfistas gringos, como o peruano Tino Malpartida, quarto lugar no Torneio Duke Kahanamoku, e o australiano Paul Mansted. Os dois surfavam muito e tinham um estilo muito peculiar. Aquele Rio de tribos diferentes impactou na formação cultural e social da juventude brasileira e marcou a evolução do surfe nacional.


Houve uma mudança radical de comportamento depois da construção do Píer. Das ruas, não dava para ver a praia. O canteiro de obras e a remoção de areia formaram uma duna artificial, isolando a juventude de praia da repressão das ruas e do caos urbano. Daquelas areias mágicas, floresceram novas atividades e descobertas. Diversos jovens viraram artistas e o produto daquele oásis de Ipanema se espalhou pelo Brasil, criando moda, música e arte.


Lipe tornou-se fabricante de pranchas. Ele tinha convivido e aprendido com o renomado shaper Wanderbill. Nascia naquela efervescência carioca, do ano de 1973, a Lipe Surfboards. O logotipo feito por Horácio Seixas foi inspirado em Dick Brewer, um tributo ao shaper norte-americano. A ideia de viver do surfe amadureceu depois de uma viagem ao Peru, quando correu o Torneio Internacional de Tábua Havaiana, em 1973. Lipe já tinha disputado o Festival Brasileiro de Ubatuba, em 1972, quando terminou em 10o lugar no geral.


O sucesso empresarial chegou na década de 1980. A marca Lipe era muito pessoal, assim como a Cometinha, criada em 1977, outro nome associado ao criador. Mas o empresário queria uma marca mais comercial. Assim, em 1980, nasceu a Energia e, dois anos depois, sua primeira loja. A marca ganhou o coração dos surfistas e o status nacional.


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