A lenda do monstro da Nova Cintra
Alguns dos envolvidos quebraram a promessa e revelaram o segredo, ou parte dele
Essa é uma história guardada a sete chaves, inclusive foi estabelecido um pacto na época entre as pessoas que sabiam do fato.
Alguns dos envolvidos quebraram a promessa e revelaram o segredo, ou parte dele, em seu leito de morte a alguns de seus descendentes.
Junto com a história, vinha um pedido para nunca contarem a ninguém essa história, revelando uma espécie de maldição que recairia sobre o delator, fazendo com que ele adoecesse e viesse a óbito em poucos dias, ou mesmo sofreria estranhos acidentes seguidos de morte certa.
Daí o fato dessa história ser revelada apenas por pessoas muito doentes e já no fim de seus dias.
20 de março de 1917, numa agradável tarde de domingo à beira da Lagoa da Saudade, no Morro da Nova Cintra, Afrânio e Yolanda, um jovem casal, estava sentado num tronco de árvore ao som dos pássaros, apenas interrompido pela crocância da pipoca doce, iguaria gentilmente preparada para aquela ocasião.
O casal notou que a água da lagoa se movia diferente.
Foi então que Afrânio levantou-se, ajeitando seus suspensórios e o elegante chapéu Panamá, chegou bem próximo a beira e disse:
-Ah, é um peixe, e dos grandes!
Na sequência atirou uma pipoca doce naquela direção e a água começou a se mexer de forma mais brusca, movimentos desencontrados, uma espécie de repuxo para baixo e então, numa velocidade assustadora, algo surge da água, sim, era um monstro!
Segundo Yolanda, seu amado ficou ali imóvel, paralisado, como se o olhar daquela criatura tivesse o poder da hipnose, não conseguiu movimentar um músculo sequer.
Enquanto aquele ser crescia a frente do incrédulo homem, simultaneamente vinha em sua direção, de forma lenta, cadenciada, sempre encarando aquele coitado.
Com o olhar dos mais sanguinários predadores, a fera aquática veio se abaixando, até que, espantosamente, esticou ainda mais o pescoço, projetou a cabeça na direção de Yolanda e
sussurrou algo em seu ouvido. Ela também paralisada, teve uma única reação: arregalou os olhos de uma forma que eles quase saltaram daquela face incrédula, com tudo aquilo que estava acontecendo diante de seus olhos.
A criatura retornou para onde estava o estático Afrânio, afastou a cabeça sustentada por aquele enorme pescoço, a colocou de lado, fez um pequeno movimento para trás, mas foi aí, nesse momento, com a mesma velocidade que surgiu das águas, que aquele pobre homem foi abocanhado na altura da cintura e carregado para as profundezas da lagoa.
No relato de Yolanda, apenas dois sons ficaram na sua memória: dos suspensórios de seu amado se rompendo e aquela entrada brusca na água. Que subitamente ficou calma, com o chapéu Panamá de Afrânio boiando sobre ela.
Yolanda relatou essa história para poucas pessoas, mas o que aquele monstro sussurrou em seu ouvido antes de levar o pobre Afrânio para todo o sempre, ela nunca revelou a ninguém.
Pelo menos era o que todos achavam…
Yolanda era uma mulher muito religiosa, católica, tinha como conselheiro, amigo e confidente, o Padre Otero.
Numa manhã chuvosa de setembro, Yolanda aparece na casa paroquial com uma espécie de baú nas mãos e diz:
-Padre, descobri que estou muito doente e não terei muitos dias de vida. Dentro desta caixa há uma carta, nela conto o que aquela criatura diabólica sussurrou ao meu ouvido, antes de levar meu amado Afrânio. Por favor, guarde esse segredo com o senhor.
E Yolanda partiu, da Igreja e posteriormente ao encontro de Afrânio, descansou.
Muitos anos se passaram, a curiosidade do Padre Otero só não era maior que sua devoção e sua fidelidade aos seus juramentos. Por diversas vezes, ele se pegou com aquela caixa na mão, prestes a abri-la, mas sempre a fechava.
Porém um dia, limpando a estante onde estava a caixa, ela caiu no chão e se abriu. O segredo de Yolanda estava ali, aberto, à sua frente.
Padre Otero entendeu aquilo como um sinal divino, que era finalmente o momento de ler aquele relato, saber o que o famigerado Monstro da Nova Cintra teria dito no ouvido de sua fiel confidente.
Então ele pega o papel dobrado, abre com as mãos trêmulas e finalmente conhece o segredo. Como se incorporasse naquele momento, a Besta Fera das águas, Padre Otero lê em voz alta:
-EU ODEIO PIPOCA DOCE!
Escrito por Kako Ferreira no dia PRIMEIRO DE ABRIL de 2021.
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