Violência nas cidades pequenas

Números absolutos de assassinatos, assaltos e estupros são suficientes para manter a sensação de insegurança inabalada

Por: Da Redação  -  22/08/20  -  12:06

O levantamento do Instituto Sou da Paz sobre a exposição das cidades à criminalidade corrobora as queixas da população em relação à violência e pressiona as autoridades a cumprirem o que prometem a cada eleição que se aproxima. O que preocupa no trabalho desenvolvido pela ONG e divulgado nesta sexta-feira (21) em A Tribuna é que a Baixada Santista lidera o ranking dos municípios mais violentos. Como já se sabia, desde notícias policiais publicadas cotidianamente neste jornal a outros estudos já feitos, os crimes avançam em municípios de menor porte. Assim, Itanhaém, seguida por Mongaguá, lidera a lista e Peruíbe aparece em quinto. Praia Grande está em nono e Bertioga em 11º. Guarujá (41º), São Vicente (61º), Cubatão (80º) e Santos (95º), que têm bolsões de miséria e são maiores, ficaram para trás. 


As cinco primeiras chamam a atenção por terem crescimento populacional acelerado. Essas e outras semelhanças precisam ser melhor avaliadas, mas pode ser sinal de que a expansão de cada uma delas não está sendo devidamente acompanhada por investimentos em segurança. Essa tese ganha força, porque a criminalidade agora se manifesta em cidades pequenas e, inclusive, fora de regiões metropolitanas em vários estados. Não é um problema apenas paulista. 


Procuradas por A Tribuna, as autoridades contestam ou até desqualificam a pesquisa e relatam seus investimentos na área. Porém, não podem se vangloriar de resultados. Mesmo que dados divulgados mensalmente pelo Governo do Estado indiquem quedas percentuais em alguns crimes, os números absolutos de assassinatos, assaltos e estupros são suficientes para manter inabalada a sensação de insegurança dos paulistas. 


Conforme a ONG, no âmbito estadual, em plena pandemia (os dados são do primeiro semestre em relação a igual período de 2019), os homicídios aumentaram 4,5% e os roubos de veículos caíram 31%. Já os estupros tiveram queda de 14%.


No ranking do Sou da Paz, o instituto fez uma média ponderada de crimes letais, estupros e roubos de 139 cidades com pelo menos 50 mil habitantes. Apesar de cada município ter uma particularidade, como estâncias litorâneas que recebem multidões no verão ou centros industriais que geram emprego o ano todo, a comparação dos municípios por meio de uma mesma régua se torna um meio importante para pressionar os gestores da segurança. Mas estes também têm acesso a essas estatísticas e análises que poderão resultar em políticas públicas eficientes.


Muitas promessas por parte de oportunistas e propostas consistentes de pessoas sérias ganham espaço nas eleições, mas a violência segue vitoriosa. No Brasil, ainda não se chegou ao ponto de haver política de segurança de Estado que sobreviva à troca de governos. Sem isso, as vitórias são localizadas e perenes, ao mesmo tempo em que criminalidade se adapta às condições, migra entre as periferias e se expande no Interior. 


Este artigo é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a linha editorial e ideológica do Grupo Tribuna. As empresas que formam o Grupo Tribuna não se responsabilizam e nem podem ser responsabilizadas pelos artigos publicados neste espaço.
Ver todos os colunistas
Logo A Tribuna