Vacina para crianças

Ainda que o discurso do ministro mude e a vacinação tenha início, a desconfiança já terá se instalado entre os pais

Por: Redação  -  25/12/21  -  06:57
Governo vai vacinar crianças, mas exigirá prescrição médica, diz Queiroga
Governo vai vacinar crianças, mas exigirá prescrição médica, diz Queiroga   Foto: Alexsander Ferraz/AT

Em nada tem contribuído a polêmica que se estabeleceu, na última semana, em torno da vacinação contra a covid-19 para crianças entre 5 e 11 anos. Na quarta-feira (22), a Fundação Oswaldo Cruz divulgou estudo apontando que, sem a vacinação em massa das crianças, dificilmente o País conseguirá atingir os patamares mínimos de imunização para a proteção coletiva da população brasileira. O trabalho analisou a evolução da cobertura vacinal no País, revelando que o ritmo da imunização caiu desde setembro, chegando à praticamente estagnação.


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Embora o uso da vacina da Pfizer já esteja aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para essa faixa etária, o governo cria obstáculos para disponibilizar o imunizante ao público. Na quarta-feira, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, disse que as mortes pela covid-19 na faixa dos 5 aos 11 anos estão em níveis que não demandam decisões emergenciais. No entanto, dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade do Ministério da Saúde, 1.148 crianças de até 9 anos já morreram de covid-19 no Brasil.


O número corresponde a 0,18% do total dos óbitos. Entretanto, supera o total de mortes infantis por doenças preveníveis com vacinação ocorridas entre 2006 e 2020 no Brasil (955). Além disso, especialistas dizem que, embora o percentual de menores que apresentam casos graves de covid-19 seja pequeno em relação ao de idosos, a doença já matou mais crianças do que as 20 enfermidades abarcadas pelo calendário nacional de imunizações.


Em meio a toda essa polêmica, o que mais surpreende é a manutenção do discurso oficial do Ministério da Saúde, contrário às orientações do órgão que tem legitimidade e tecnicidade para avaliar riscos e recomendar - ou não - a vacinação a este ou aquele público: a Anvisa. Foi a agência que, após estudos de segurança e eficácia, assegurou a existência de evidências científicas para vacinar crianças de 5 a 11 anos de idade com as doses pediátricas da Pfizer.


A postura do ministro está em sintonia com a do próprio presidente, que desde o início vem colocando em dúvida a necessidade de ampliar o quadro vacinal para essa faixa etária, chegando a pedir os nomes dos técnicos da Anvisa que avaliaram e aprovaram a imunização de crianças.


Passados quase dois anos da pandemia, ainda se repete a postura desacertada e maléfica do presidente, sempre se contrapondo às evidências técnicas e científicas dos estudos e dos pesquisadores, independentemente de serem ou não da agência que tem competência para avaliar riscos e autorizar imunizantes.


Medidas já estão sendo adotadas por parlamentares contra a postura do ministro Marcelo Queiroga, mas ainda que o discurso mude e a vacinação tenha início, tal discurso já terá provocado estragos na credibilidade da vacina e, consequentemente, na adesão dos pais. História que se repete. Uma pena.


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