Uma inflação persistente

O governo deveria ser mais austero para viabilizar seu programa, o Auxílio Brasil, ao invés de esticar o orçamento

Por: Redação  -  12/11/21  -  06:49
  Foto: Matheus Tagé/AT

A inflação de outubro pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 1,25% no mês passado, é grave não só por ter superado as previsões dos economistas, mas também por registrar altas em todos os nove grupos que compõem o indicador. Dessa forma, o aumento de preço está disseminado pela economia, deixando mais difícil o trabalho do Banco Central, que em 8 de dezembro decidirá sobre a nova taxa Selic. Com o aquecimento das remarcações nos supermercados, nos transportes, incluindo combustíveis, e nos serviços administrados, como conta de luz, voltou a se falar novamente em elevação dos juros básicos em dois pontos, o que deixaria a Selic perto de 10% ao ano, um salto avassalador se comparado com os 2% de dezembro de 2020.


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Com desemprego, consumidores desconfiados com o futuro e o risco fiscal do governo (gastar além das regras fiscais), a pressão da demanda sobre a oferta está retraída. Na verdade, o motivo principal da inflação é a subida dos preços das matérias-primas, como o petróleo, e os alimentos, um fenômeno mundial fomentado pelo desarranjo causado pela pandemia (reabertura das economias de forma simultânea sem que a produção consiga atender a demanda no curto prazo), conforme ressaltou o colunista Celso Ming.


No caso brasileiro, há o efeito da alta do dólar, que sobe conforme as contas do governo geram mais desconfiança. Era para estar ocorrendo o contrário no Brasil, devido ao saldo positivo da balança comercial, de US$ 58 bilhões neste ano, e com a entrada de especuladores estrangeiros, que aproveitam para ganhar duplamente no País. Eles faturam na conversão do dólar para o real depreciado e investem em papéis a juros altos, inimagináveis nos Estados Unidos, Europa e Japão, que seguram suas taxas para estimular o crescimento local. Portanto, a valorização da moeda americana no Brasil, acima do patamar ocorrido nos outros países emergentes, é defensiva, como forma para os investidores se protegerem da incerteza das contas públicas.


A desconfiança com o rompimento do teto para financiar o Auxílio Brasil não tem relação direta com a inflação, mas corre paralelamente. Para emprestar ao governo, que decidiu romper o teto (regra que limita o gasto neste ano às despesas do ano anterior corrigidas pela inflação), o investidor vai cobrar mais juros para aceitar um risco maior. Por outro lado, um setor público mais gastador injeta muito dinheiro na economia, anulando o esforço do BC de enxugar capitais para reduzir a pressão sobre os preços e assim derrotar a inflação.


No final das contas, os juros devem continuar altos por mais tempo, abatendo a recuperação em 2022. Por isso, o governo deveria ser mais austero, realizando cortes para viabilizar seu programa de transferência de renda, ao invés de esticar o orçamento, que equivale a aumentar o endividamento.


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