Uma conta ainda mais cara

O sistema continua concentrado nas usinas hidrelétricas abastecidas por chuvas cada vez mais irregulares

Por: Redação  -  14/11/21  -  06:33
 Se os combustíveis são, neste ano, o centro dos problemas do País com a inflação, a conta de luz é forte candidata a disputar esse posto em 2022.
Se os combustíveis são, neste ano, o centro dos problemas do País com a inflação, a conta de luz é forte candidata a disputar esse posto em 2022.   Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

Se os combustíveis são, neste ano, o centro dos problemas do País com a inflação, a conta de luz é forte candidata a disputar esse posto em 2022. Isso ficou mais evidente com a previsão da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) de que as tarifas do setor podem ter um aumento médio de 21% em 2022, um salto considerável se comparado aos 7,04% neste ano e 3,25% em 2020. Caso esses reajustes se confirmem, não será um recorde – em 2015, houve uma disparada de 30%. Esse percentual era o resultado trágico de uma cartada da presidente Dilma Rousseff. Em 2013, antes das eleições, ela derrubou a tarifa residencial em 18% e a industrial em 32%, conforme relembrou o jornal O Estado de S. Paulo. Dois anos depois, em 2015, a realidade se impôs. O setor energético se descapitalizou em meio a uma crise hídrica e ocorreu uma recomposição de preços. Depois dos 30% de 2015, em 2016 a conta residencial caiu 1,49%, subiu 4,83% em 2017 e 14,99% em 2018, ganhando mais 1,67% em 2019.


Ainda ontem, com a repercussão dos 21% no próximo ano, a Aneel se explicou, alegando que se baseou em cenários hipotéticos e que esse percentual não considera medidas de atenuação tarifária em 2022. Até lá, o País estará de novo em época eleitoral e teme-se o que será feito nesse campo, se a lógica a ser seguida for a das urnas.


Hoje, o País está de volta com uma crise hídrica, atenuada por chuvas desde outubro, mas que não solucionaram a escassez. Por exemplo, Bauru tem 40% dos habitantes com a água na torneira por um dia e nada a cada quatro. Algo parecido se vê nas bacias do Piracicaba, Capivari e Jundiaí. O sistema da Cantareira também não ganhou com os temporais e sua capacidade caiu de 39% em agosto para atuais 27%. Portanto, existe uma irregularidade na recomposição dos rios e lagos e é bom não se acomodar.


As principais hidrelétricas, na verdade, estão localizadas na divisa São Paulo-Minas Gerais e, para preservá-las, o sistema elétrico tem acionado as térmicas, que são mais caras e estão por trás da subida da conta de luz. Além das térmicas, o governo aumentou a importação de energia do Uruguai e Argentina e fez contratações das chamadas energias de reserva, que a partir de maio serão acrescentadas ao sistema. Essa fatura custará R$ 9 bilhões e não está claro de onde sairá esse dinheiro, ainda mais se a Aneel for pressionada a aliviar a conta para não prejudicar a imagem dos políticos. Aliás, há até um programa de estímulo à economia que pouca gente se lembra dele.


Se o racionamento parece ter sido evitado, o custo desse esforço, com o acionamento térmico principalmente, talvez venha com tudo no próximo ano. O alívio se dará se chover muito e os acréscimos energéticos forem desativados, impedindo a conta de aumentar tanto. Porém, o País permanecerá dependendo da sorte. O sistema nacional continua concentrado nas hidrelétricas abastecidas por regimes de chuvas cada vez mais irregulares.


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