Uma agenda ambiental para a Baixada Santista

Um conjunto de providências urgentes deve entrar na agenda forma imediata

Por: Redação  -  21/02/22  -  06:42
  Foto: Tânia Rego/Agência Brasil

Nas últimas duas semanas, cenas de Petrópolis ganharam o mundo, com imagens de resgate de pessoas e animais, casas destruídas pelos deslizamentos, cobertas de lama e mato, carros, comércios e espaços públicos submersos em escombros e no que sobrou de uma das regiões serranas do Rio de Janeiro. Mais de 150 pessoas mortas, dezenas desaparecidas e muito trabalho pela frente. Como bem definiu uma das vítimas ao ver o que sobrou do sobrado onde vivia: “parece que Petrópolis foi bombardeada. Parece que vivemos em uma guerra”.


A semelhança com o cenário de guerra se restringe ao produto final da destruição, igual em ambas as situações, mas está bem longe de ser reflexo de uma ação pontual e dolosa como um ataque aéreo. E essa é a parte que toca a governos e sociedade: os deslizamentos são consequência de algo maior, silencioso e contínuo, as mudanças do clima e do regime de chuvas, fruto um conjunto de fatores que inclui não só a concentração de gases de efeito estufa na atmosfera ao longo de séculos, mas também da falta de planejamento urbano, de obras necessárias para mitigar essas consequências e a ocupação indevida de áreas que oferecem risco.


Em menor proporção, a Baixada Santista já viveu, há dois anos, algo semelhante, quando horas de chuva intensa e contínua provocaram deslizamentos e mortes em Guarujá, São Vicente e Santos. Assim como no Rio, também aqui catástrofes semelhantes estão associadas às mudanças climáticas. Um relatório que acaba de ser concluído pela Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente do Estado, em parceria com a Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit, agência alemã financiada por aquele governo, aponta para cenários de alerta em relação ao aumento gradual da temperatura e do regime de chuvas nas próximas décadas na Baixada Santista. No pior cenário, ondas de calor podem ter até cinco graus a mais até o final do século, e as chuvas vão se tornar mais intensas e contínuas, com enxurradas e possíveis deslizamentos em encostas.


O estudo desenha vários cenários, com maior ou menor impacto, a depender do tanto que a adoção de medidas mitigadoras possa ser incorporada ao cotidiano, como a utilização de energias limpas, manutenção de habitats costeiros, preservação e recomposição da vegetação e conservação dos oceanos, responsáveis pelas trocas atmosféricas e absorção de poluentes. Como dizem os pesquisadores, a Baixada Santista não vive em uma bolha, onde os impactos nocivos dependam apenas de atitudes e consciência locais, mas algum ponto de partida precisa ser adotado de imediato.


Além disso, aponta o estudo, um conjunto de providências urgentes deve entrar na agenda de forma imediata, não para evitar as mudanças climáticas, mas para mitigar seus efeitos. Entre elas, revegetação das encostas dos morros, remoção de famílias de áreas de risco, melhorias na drenagem das vias públicas para suportar volume maior de chuvas, entre outras.


A lição de casa está posta, e não é de hoje. O que o novo relatório faz é dar ainda mais consistência, com informações científicas e confiáveis, a uma agenda de providências que já deveria estar sendo tomada há muitos anos.


Este artigo é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a linha editorial e ideológica do Grupo Tribuna. As empresas que formam o Grupo Tribuna não se responsabilizam e nem podem ser responsabilizadas pelos artigos publicados neste espaço.
Ver todos os colunistas
Logo A Tribuna