Transporte público na agenda

Passada a pandemia, será preciso debater um novo modelo que pode prever tarifa com subsídio em definitivo

Por: Redação  -  30/08/21  -  06:53
  Foto: Isabela Carrari/PMS

Até que demorou a chegar à região o debate que já se trava em outros municípios: subsidiar ou não o transporte público, tendo em vista a queda significativa de usuários que vem se verificando nos últimos anos. Em Santos, conforme reportagem publicada ontem, de julho de 2019 a julho deste ano, a queda de passageiros foi de 54,3%, incluídos os usuários pagantes e os que pagam meia passagem (estudantes, por exemplo).


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Para garantir a manutenção da tarifa ao menos até o final do ano - tendo em vista que muitos trabalhadores ainda sofrem com a redução da renda familiar imposta pela pandemia - a Prefeitura de Santos já anunciou um aporte financeiro à empresa concessionária de R$ 4 milhões, ou R$ 800 mil por mês.


Há um conjunto de fatores que podem explicar essa queda acentuada, mas importante destacar que o fenômeno não é exclusivo da cidade de Santos. Estudo divulgado neste mês pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), feito em nove capitais (Belo Horizonte, Curitiba, Fortaleza, Goiânia, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo), indica que a média diária de usuários de ônibus era de 631 mil em outubro de 1995, e caiu a 343 mil em outubro de 2019, antes da pandemia, portanto. A redução da atividade econômica, a maior valorização do home office e o medo da contaminação só fizeram derrubar ainda mais a frequência de passageiros nos coletivos.


Entender os motivos pelos quais o usuário deixou de enxergar nos ônibus uma boa opção é o primeiro passo para desenhar um novo modelo de gestão para o transporte público, em que o subsídio por parte das prefeituras poderá ser, sim,uma opção definitiva, como já acontece em várias cidades no mundo. Em Praga, por exemplo, o subsídio chega a 74% da tarifa.


Vale destacar que, ano após ano, outras opções de deslocamento foram sendo incorporadas ao cotidiano das pessoas. Entre 2001 e 2020, segundo o Ipea, o aumento na frota de motos foi de 331%. Além disso, os aplicativos de transporte se proliferaram, oferecendo modelos em que também se divide o carro com outros passageiros. A concorrência foi inevitável, ajudando a empurrar para baixo a preferência dos usuários pelos ônibus, nem sempre disponíveis na quantidade adequada ou nas rotas necessárias.


Em Santos, particularmente, houve melhorias importantes na frota de ônibus, que são limpos, dotados de refrigeração e conexão com internet, mas essas não serão virtudes suficientes para trazer de volta o público. Aportar subsídio até o final do ano foi medida acertada pela Prefeitura. Ao menos até lá poderá se ter uma fotografia mais nítida, que separe redução orgânica de redução provocada pela covid-19. Baixada a poeira da pandemia, colocar na agenda esse debate será inevitável, tanto para que as prefeituras possam fazer seus orçamentos de forma mais previsível, como para evitar o colapso no setor ou a precarização do serviço.


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