Trabalho e estudo

Entre os jovens de 19 a 24 anos que estudam, percentual dos que trabalham subiu de 45,4% em 2016 para 48,3% em 2019

Por: Da Redação  -  08/02/20  -  20:21

Aumentou no Brasil o número de jovens entre 19 e 24 anos que estudam e trabalham, especialmente considerando os que estão matriculados em instituições privadas de ensino. As explicações para o fenômeno estão associadas à recente crise econômica - caiu o emprego e a renda das famílias, obrigando os jovens a buscar colocações no mercado de trabalho, além do fato que os pais, de maneira geral, passaram a ter menos condições de custear o estudo dos filhos.


Mas também deve ser considerada a estagnação das vagas em instituições superiores públicas e a maior exigências das empresas, em ambiente fortemente competitivo, exigindo cada vez mais formação dos jovens para manter (ou conquistar) empregos.


Entre os jovens de 19 a 24 anos que estudam, o percentual dos que trabalham subiu de 45,4% em 2016 para 48,3% em 2019, representando um contingente de 2,6 milhões de pessoas. Considerando apenas aqueles que estão na rede privada de ensino, o aumento foi de 54,4% para 58,3% no mesmo período. Embora a variação tenha sido menor, também avançou o percentual dos estudantes das instituições públicas, de 35,5% para 36,7%. 


O acesso às universidades públicas é difícil no Brasil. Enquanto há ampla oferta de vagas para os níveis fundamental e médio, cursar Ensino Superior público é muito mais limitado: basta notar que, em 2018, 75,4% das matrículas na graduação correspondiam ao sistema privado, e apenas 24,6% às instituições mantidas pelos governos, principalmente estadual e federal. Ora, para custear os estudos, principalmente com a redução dos programas de bolsas ou financiamento, como o ProUni e o Fies, os alunos são obrigados a trabalhar.


Os dados mostram que, mesmo na faixa etária de 14 a 15 anos, há 5,5% do total de alunos trabalhando. São estudantes do nível médio e, pela legislação, só poderiam estar empregados como aprendizes. Mas há parcela significativa deles que atuam como trabalhadores familiares auxiliares, ajudando parentes sem remuneração fixa e sem direitos trabalhistas.


Há um ponto positivo: o avanço dos mais pobres ao ensino universitário. Embora sua presença não reflita sua participação no total de habitantes do país, houve crescimento: os 40% mais pobres eram 8% dos alunos nas universidades públicas em 2005, e passaram a 23% em 2015. No setor privado, o aumento foi de 3% para 16%. Quem tem renda menor, entretanto, precisa trabalhar para sobreviver, mesmo aqueles que conseguem vagas em instituições públicas. 


A crescente oferta de cursos superiores a distância (EaD) tende a aumentar ainda mais a proporção de estudantes que trabalham, tendo em vista as características dessa modalidade de ensino. O trabalho não é incompatível com o estudo, mas cria desafios para as instituições para que consigam, de fato, alcançar os objetivos de formar profissionais, nas mais variadas áreas.


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