Tensão entre os poderes

As investigações e os debates precisam ser feitos com a civilidade que apenas a democracia garante

Por: Da Redação  -  11/07/21  -  10:14
  Foto: Matheus Bonomi/Agif/Estadão Conteúdo

Depois de uma semana muito tensa, carregada de um discurso acalorado desnecessário nesse momento de grave crise sanitária, desemprego e risco hídrico que o País passa, espera-se que o presidente Jair Bolsonaro ceda à moderação e assuma uma agenda mais positiva.


O Palácio do Planalto enfrenta uma pressão política elevadíssima conduzida pela CPI da Covid, mas precisa se reaproximar dos integrantes dos outros poderes pelo bom funcionamento do governo. A gestão de Bolsonaro depende do andamento de seus projetos no Congresso para viabilizar programas que, inclusive, poderiam render frutos nas eleições ao próprio chefe do Executivo - aliados mais próximos acreditam que os efeitos da vacinação e programas sociais, como o novo Bolsa Família, podem reverter os atuais índices de reprovação.


Entretanto, na semana passada, o mandatário extrapolou ao chamar de “imbecil” o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, inconformado com a posição contrária do magistrado ao voto impresso, cuja votação na Comissão Especial da Câmara acabou sendo adiada para o quinta-feira.


Além disso, o presidente se mostrou antidemocrático ao ameaçar não aceitar o pleito do próximo ano se não for realizado com a emissão do comprovante após voto na urna eletrônica. Esse discurso bélico prejudicou o próprio Bolsonaro, que não só foi criticado pelos adversários, mas também por um aliado. O presidente do Congresso, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), disse que não aceitará ataques à democracia.


Para alguns analistas, a escalada das críticas do chefe do Executivo à urna eletrônica é uma estratégia do Planalto de dividir as atenções dadas à CPI da Covid. De fato, trata-se de um momento muito difícil para o Palácio do Planalto, pois a comissão do Senado, que começou investigando as responsabilidades do governo frente à pandemia, cobra do presidente uma versão sobre o caso do deputado Luís Miranda (DEM-DF), que denunciou suposta propina com a vacina Covaxin. A exposição negativa de Bolsonaro e pesquisas que indicam uma queda de popularidade também têm esquentado os ânimos do presidente, dificultando o relacionamento com os demais poderes.


As investigações e os debates precisam ser feitos com a civilidade que apenas a democracia garante. Portanto, espera-se que se amenize o tom, pelo bem do País, que ainda está em meio a uma demorada e traumática crise sanitária e elevado índice de desemprego.


Além disso, a persistência da inflação e o pior regime de chuvas em 91 anos ameaçam a retomada da economia – a recuperação já começou, ainda que timidamente, a ser notada nos indicadores da indústria e dos serviços. Paralelamente, o Brasil precisa se modernizar e uma série de reformas aguardam na fila das prioridades do Parlamento. Postergadas essas mudanças, o Brasil continuará mantendo regiões inteiras e parcelas de sua população no atraso.


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