Suspeita no MEC

Falta esclarecer melhor as circunstâncias da continuidade da presença dos religiosos no MEC

Por: Redação  -  26/03/22  -  06:45
  Foto: Vanessa Rodrigues/AT

A decisão da ministra do Supremo Tribunal Federal (STF) Cármen Lúcia de determinar a investigação da suspeita de um gabinete paralelo operado por dois pastores no Ministério da Educação (MEC) é a melhor forma para desvendar a fundo esse caso. O ensino é o caminho para reduzir as desigualdades sociais no País e levar oportunidades de vida aos mais jovens. Por isso, é inadmissível que ocorram abusos ou atividades de qualquer tipo que possam prejudicar a nobre função do ensino que, a conhecimento de todos, não recebe a devida atenção neste País.


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Com o aval da Corte, um inquérito será aberto para investigar o ministro da Educação, Milton Ribeiro, e consequentemente os pastores Gilmar Santos e Arilton Moura. Pesam sobre os religiosos denúncias graves feitas por pelo menos dez prefeitos, como pedido de dinheiro e até um quilo de ouro (equivalente hoje a R$ 300 mil) para providenciar liberação de verbas do MEC. Os dois negam. Conforme o jornal O Estado de S. Paulo, em um caso, os recursos da pasta foram liberados após 16 dias da solicitação, uma rapidez totalmente atípica. Deve-se ressaltar ainda que os dois religiosos não integram o quadro de servidores do ministério. É preciso explicar o motivo de transitarem por lá com tanta desenvoltura e como o ministro permitiu que isso ocorresse.


O pronunciamento de Cármen é exemplar: “A gravidade do quadro descrito é inconteste e não poderia deixar de ser objeto de investigação imediata, aprofundada e elucidativa”.


Um áudio divulgado pelo jornal Folha de S.Paulo revela que o próprio ministro comenta dar prioridade aos pedidos dos pastores, afirmando que a liberação de recursos foi um “pedido especial” do presidente Jair Bolsonaro. Apesar da pressão de aliados pela queda de Ribeiro, o Palácio do Planalto tenta preservá-lo. O próprio chefe do executivo assumiu a defesa de Ribeiro, que é muito próximo de Bolsonaro e da primeira-dama Michelle. “Boto minha cara toda no fogo pelo Milton”, emendando que se faz uma “covardia” contra ele. O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), dois dias antes da fala do pai, já tinha se pronunciado pela permanência do titular do MEC e de que seu trabalho é “fenomenal” no ministério.


O esforço do Governo é o de preservar o ministro, talvez como uma forma de não admitir irregularidades neste mandato. O presidente costuma afirmar, e repetiu nesta semana, que não há corrupção em sua gestão. É esperado então que o ministro preste esclarecimentos ao Congresso.


A explicação de Ribeiro, até agora, é de que recebeu relatos e uma denúncia anônima sobre pedidos de recursos em troca de benefícios e que o caso foi levado à Controladoria-Geral da União (CGU), que isentou “agentes públicos” de envolvimento. Mas falta esclarecer melhor as circunstâncias sobre a continuidade da presença dos religiosos no ministério, como o próprio Ribeiro confirmou à imprensa.


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