Responsabilidade multiplicada
Os comerciantes assumem grande responsabilidade e devem ser firmes com seus funcionários e com os clientes
O prefeito de Santos, Paulo Alexandre Barbosa (PSDB), decidiu seguir São Vicente e Praia Grande e optou na quarta-feira por permitir o funcionamento do comércio 12 horas por dia. A medida contraria a determinação do Governo do Estado que, com base na fase amarela, permite as atividades por dez horas. A rebelião não se dá apenas na Baixada Santista e se sustenta na ideia de que, quanto menor for o tempo de abertura do varejo, maior será o acúmulo de compradores. Por outro lado, há quem defenda que o período reduzido desestimula a frequência e, por consequência, cai a aglomeração e o risco de transmissão da covid-19. Até agora, não há um estudo que comprove quem está certo, mas duas condições precisam estar bem estabelecidas. Eventual decisão final, se é que haverá alguma de forma consensual, não pode ser vista como medida de estímulo econômico e sim como solução sanitária. Se a liberação não atentar para a preservação da saúde, a escalada da pandemia vai se acelerar e dessa forma inviabilizar não só o consumo como qualquer convívio social.
A outra condição é que o funcionamento do comércio e também de outras atividades com potencial de aglomeração se desenvolvam com uso de máscara, álcool em gel e checagem das temperaturas. Nada de deixar o nariz de fora, como se vê hoje nas ruas e cada vez mais no transporte coletivo, inclusive por idosos. Dessa forma, os comerciantes assumem grande responsabilidade. Estes devem ser firmes com seus funcionários e com os clientes para preservar a própria eficácia do horário definido para o funcionamento de suas lojas.
Há outro agravante que enfraqueceu a legitimidade das autoridades com medidas mais rígidas contra a covid-19 – o de que as regras foram retomadas logo após as eleições, como muito se comentava antes do pleito do segundo turno. O eleitor é desconfiado com a política e a conversa miúda era de não se queria incomodar com medidas impopulares que causassem revés nas urnas. Não só o Governo do Estado, responsável pela fase amarela, mas as prefeituras, estas por meio de fiscalização nas praias, festas e pontos de atração de jovens, poderiam ter se empenhado mais em busca de melhores resultados.
Os efeitos já são sentidos há semanas, com aumento dos registros de casos entre jovens, o que daqui a algumas semanas poderá resultar em mais mortes se houver contaminação de seus parentes idosos ou com comorbidade. Os óbitos diários já aumentaram no Brasil e a experiência da Alemanha e Estados Unidos, por exemplo, é bem clara. O potencial do vírus retomar sua disseminação é assustadora, ressaltando que ele se dá mediante falhas dos governos e descuido da população. As vacinas vêm aí, mas no caso brasileiro impera uma grande confusão. Não se sabe a que velocidade elas serão aplicadas. Assim não há atividade econômica que se recupere ao nível pré-pandemia. A retomada depende do fim da transmissão e total imunização.