Queda do preço do petróleo

A crise do petróleo é mais um ingrediente dos problemas econômicos globais, com forte potencial destrutivo

Por: Da Redação  -  10/03/20  -  09:39

Mais um componente veio a se somar às grandes incertezas que a epidemia de coronavírus trouxe à economia global: a redução do preço do barril do petróleo, a partir da decisão da petroleira da Arábia Saudita, Saudi Aramco, de elevar sua produção e oferecer descontos a compradores quando se discutia, entre os países produtores, a redução da oferta para manter preços diante da conjuntura desfavorável. 


O cenário é preocupante e afeta o Brasil: os efeitos do coronavírus ameaçam a recuperação do crédito no País, especialmente o destinado ao investimento das empresas e linhas que financiam a compra de máquinas e gastos com construção e inovação. Na semana passada, bancos e consultorias revisaram para baixo as projeções de crescimento da economia nacional e avaliam que o impacto da epidemia deve ser mais profundo e prolongado do que se imaginava. O banco de investimentos Goldman Sachs cortou de 2,2% para 1,5% a previsão de alta do PIB neste ano. 


A Agência da ONU para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad) prevê contração de 5% a 15% no fluxo global de Investimento Estrangeiro Direto (IED) em 2020, provocando queda generalizada nos lucros das empresas. Na América Latina, as maiores companhias deverão ter baixa de 6% nos ganhos em 2020. Investimentos serão adiados, com forte efeito negativo nas economias e indústrias fortemente dependentes das cadeias globais para obter peças para seus produtos.


A crise do petróleo é mais um ingrediente dos problemas econômicos globais, com forte potencial destrutivo. Após o fracasso das negociações no acordo de limitação da produção de petróleo, motivada pela recusa da Rússia em participar dele, a reação da Arábia Saudita fez desabar o preço nos mercados internacionais, com a maior desvalorização desde a Guerra do Golfo, em 1991.


A forte queda do petróleo interrompeu os negócios no Ibovespa, que caiu mais de 10% após 30 minutos do pregão de ontem. Segundo o Goldman Sachs, a guerra de preços poderá manter o valor de petróleo ao redor de US$ 30 por barril no segundo e terceiro trimestres deste ano, não sendo descartada a possibilidade de cair a US$ 20. 


O cenário é grave para países produtores, entre os quais os Estados Unidos, onde o gás de xisto teve forte crescimento nos últimos anos. O pré-sal brasileiro é ameaçado: embora o ponto de equilíbrio da produção atual da Petrobras esteja em US$ 16 por barril, preço que assegura o pagamento de 100% dos custos e despesas, o desenvolvimento de novos projetos é ameaçada, uma vez que a estatal trabalha com preço de equilíbrio entre US$ 35 e US$ 45. 


Petróleo barato é grave complicador para a economia mundial, que se vê diante da maior crise dos últimos anos. O momento é sério, e exige cuidado e atenção global. 


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