Problema em portos
Há previsão de redução de viagens e da ocupação de navios que estão saindo da China para o Brasil. O motivo principal é a baixa demanda nacional, resultado do fechamento de lojas e fábricas no País
Atualizado em 16/04/20 - 10:41
O primeiro efeito negativo sofrido pelos terminais portuários e empresas de navegação diante da covid-19 foi a redução das atividades na China, hoje o principal mercado global de exportações e importações. A produção chinesa foi duramente afetada durante várias semanas, interrompendo o fluxo internacional de mercadorias, e constatou-se a retenção de contêineres refrigerados na Ásia, essenciais para o transporte de carnes e frutas, produtos exportados em larga escala pelo Brasil.
A retomada das atividades na China amenizou as dificuldades, com embarques voltando, sendo ainda disponibilizadas embarcações adicionais para trazer contêineres vazios. Mas os problemas estão longe de terminar: uma segunda etapa da crise, envolvendo paralisações no Brasil e na Europa, consequência do isolamento social, comprometem o funcionamento regular dos portos e do tráfego marítimo.
Nas próximas semanas, há previsão de redução de viagens e da ocupação de navios que estão saindo da China para o Brasil. O motivo principal é a baixa demanda nacional, resultado do fechamento de lojas e fábricas no País. Outro ponto delicado é a oscilação cambial: não apenas o dólar está mais caro como existe grande incerteza sobre qual será o câmbio quando as cargas encomendadas chegam ao Brasil, após um mês de viagem desde a China.
Os preços dos fretes na rota Xangai-Santos têm sido reduzidos: entre 27 de março e 3 de abril houve diminuição de 15% no valor, segundo dados do Shangai Containerized Freight Index, e há projeções que eles cairão ainda mais, abaixo de US$ 1.000 por TEU (unidade equivalente a um contêiner de 20 pés).
Especialistas alertam que, apesar da utilização média dos navios dessa rota ainda apresentar níveis satisfatórios, a demanda para as próximas semanas está em desaceleração. No caso das importações da Europa, também há redução no movimento, apesar de inferiores ao registrado no pico da epidemia na China.
O balanço da movimentação de contêineres nos principais portos brasileiros, como Santos, Itajaí, Navegantes e Suape, indica queda significativa em março, que deve se repetir e ampliar em abril. Segundo a Brasil Terminal Portuários (BTP), a previsão é de redução de 40% nos volumes de importação da Europa, que possui portos concentradores de cargas de todo o mundo.
O cenário é mais favorável para a exportação de commodities agrícolas, beneficiadas por safra recorde de grãos e dólar alto, compensando os problemas logísticos. Mesmo assim, há preocupação quanto à possível redução do seu consumo em regiões da Europa e dos Estados Unidos.
O momento é difícil, notadamente para os terminais de contêineres, embora exista, na maioria deles, folga no caixa e baixo endividamento. As preocupações, porém, existem e são justificadas.