Prevaleceu o bom senso

Nem todo bem antigo tem valor histórico ou arquitetônico. Esse é um debate necessário em uma cidade com quase 500 anos

Por: Redação  -  18/03/22  -  06:22
  Foto: Matheus Tagé/AT

O Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Santos (Condepasa) rejeitou, ontem, o pedido de tombamento do ginásio e das piscinas do Clube Atlético Santista, localizado no Canal 3. O pedido havia sido feito há mais de dez anos por um grupo de arquitetos preocupados com a possível demolição do antigo clube.


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O órgão técnico de apoio do conselho já havia dado seu parecer, recomendando o tombamento do ginásio suspenso, que tem características modernistas e uma estrutura inovadora para a época. Recomendou, ainda, a proteção da quadra coberta de saibro para tamboréu, inaugurada em 1971 e considerada a primeira do gênero em Santos.


Acertada a decisão do conselho, e não se está aqui defendendo a demolição de patrimônios históricos com relevância arquitetônica na Cidade. O que se defende, isto sim, é o bom senso, e o equilíbrio necessário para discernir o que de fato tem interesse histórico e o que é apenas um bem arquitetônico, que teve sua importância em determinado período, desempenhou suas funções pelo tempo em que a dinâmica da sociedade permitiu, mas que hoje já não faz mais sentido.


Estivesse ele sendo utilizado como antes, com fluxo de famílias que ali se entretiam, praticavam esportes e convívio social, nada haveria o que se dizer. E assim foi até início dos anos 90, quando não apenas o tradicional clube do Canal 3, mas todos os outros deixaram de ter a relevância de antes.


Sem ocupação ou uso, suas dependências entraram em processo quase irreversível de deterioração e abandono, acelerado por questões societárias e jurídicas. O Clube Atlético Santista virou um grande elefante branco, que enfeia o bairro residencial onde está instalado, e impede a necessária renovação urbana em uma cidade já tão carente de espaços.


Tivesse o Condepasa acolhido o pedido de tombamento, é certo que o prédio do antigo clube ali ficaria a mercê do tempo ou de algum empresário que quisesse investir em sua restauração histórica para futuro uso.


Imóveis antigos não têm, necessariamente, valor histórico que justifique o tombamento ou serem gravados com níveis de proteção, como ocorre em várias ruas do Centro Histórico, onde prédios e casas de comércios fechados transformaram o bairro em um dos mais desafiadores para os processos de renovação urbanística.


Sem macular o devido valor histórico de bens antigos em uma cidade que logo chega aos 500 anos, é preciso ter bom senso e critérios rigorosos para decidir pelo tombamento. Embora a Prefeitura insista em argumentar que há benefícios a estimular o empresário que queira restaurar um bem tombado, na prática, constata-se que não é bem assim: os processos são custosos e demorados, e nem sempre garantem a comercialização no pós-obra.


Que o caso do antigo clube sirva de reflexão para esse debate, sem ideologias, medo ou preconceitos.


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