Por um fio

Bolsonaro insiste em medidas concretas para a retomada das atividades econômicas, em posição que confronta com as orientações do Ministério da Saúde, da OMS e de praticamente todos os países do mundo

Por: Da Redação  -  08/04/20  -  10:39

Segunda-feira foi um dia muito tenso em todo o País. Eram fortes os rumores sobre a demissão do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, em acentuado desgaste junto ao presidente Jair Bolsonaro. Mandetta foi alvo de críticas sucessivas, que culminaram com declarações de Bolsonaro que integrantes de seu governo "viraram estrelas" e que a hora deles ia chegar, afirmando que não tinha "medo de usar a caneta", em clara alusão à possível demissão.


As especulações sobre a saída do ministro cresceram com a presença de deputado e ex-ministro Osmar Terra (MDB-RS) e da médica Nise Yamaguchi no Palácio do Planalto. Terra tem reiterado apoio à tese presidencial do confinamento parcial da população, com a reabertura do comércio, e ambos são defensores da hidroxicloroquina como medicamento a ser adotado em estágio inicial da covid-19.


Apesar das turbulências, que fizeram com que o Ibovespa, que vinha subindo 8%, tivesse queda, fechando em alta de 6,5%, Mandetta continuou no cargo. Em pronunciamento no final do dia, declarou que vai permanecer como ministro, continuando a enfrentar "o nosso inimigo, que tem nome e sobrenome, covid-19", acrescentando que "temos uma sociedade para lutar e proteger; e médico não abandona paciente". 


O ministro reiterou seus compromissos e metas. Não fez elogios ao presidente, e insistiu que novas medidas (que envolvem a redução do confinamento e a adoção de medicamentos) devem ser tomadas baseadas por "ciência, disciplina, planejamento e foco". Nos bastidores, é dado como tendo sido decisivo para a permanência de Mandetta o apoio militar, em articulação que foi capitaneada pelo ministro da Defesa, Fernando Azevedo, e operacionalizada pelo ministro-chefe da Casa Civil, Walter Braga Netto.


A situação de instabilidade, entretanto, persiste. O presidente continua obstinado com a utilização da hidroxicloroquina, e na segunda-feira Mandetta se recusou a assinar decreto autorizando o uso da substância. Além disso, Bolsonaro segue insistindo em medidas concretas para a retomada das atividades econômicas no País, em posição que confronta com as orientações do Ministério da Saúde, da Organização Mundial da Saúde (OMS) e de praticamente todos os países do mundo.


A saída de Mandetta seria desastrosa. Afetaria o combate à pandemia e toda a estrutura montada para o enfrentamento da doença. Pior ainda se a orientação mudasse radicalmente, com a edição de decreto presidencial revogando as quarentenas, com confrontos com governadores, parlamentares e o Supremo Tribunal Federal, com consequências imprevisíveis. 
Espera-se que o bom senso prevaleça e o presidente não se deixe levar por manifestações de redes sociais ou pressões do grupo ideológico em torno dele. Apostar no equilíbrio e na ciência é o melhor caminho. 


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