Partos por cesárea
De 16.649 partos realizados na região, 7.292 foram por cesáreas, representando 43,8% do total. Recomendação da OMS é que esse número não supere 15% em relação ao total de nascimentos
Dados da Secretaria Estadual de Saúde e dos municípios da Baixada Santista mostram que o número de partos por cesárea na rede pública da região nos últimos três anos (2017, 2018 e 2019 até novembro) foi bastante elevado. De 16.649 partos, 7.292 foram por cesáreas, representando 43,8% do total. Destaque-se que a recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) é que esse número não supere 15% em relação ao total de nascimentos.
O problema é antigo. Não houve variação significativa entre 2017 e 2019, mantida praticamente a mesma média de partos por cesárea. É interessante observar que essa quantidade é bem maior nas maternidades privadas do que nas públicas: enquanto no Complexo dos Estivadores, em 2019, o percentual de partos normais foi de 60%, o mesmo acontecendo com o Hospital Silvério Fontes (58,1%), na Casa de Saúde de Santos foi de apenas 15,1%, no Ana Costa e São Lucas 24,0% e 24,8%, respectivamente, e na Santa Casa, que atende pacientes SUS, de 33,9%.
Não se trata de negar a importância e a necessidade de realização de partos por cesárea: eles são amplamente justificados e podem salvar as vidas dos bebês e das mães em muitos casos. Mas essas cirurgias devem ser feitas por indicação médica, e não por conveniência ou comodidade, como infelizmente acontece.
Há casos em que o método deve ser aplicado, sem vacilações, como quando há hemorragias ou problemas, como o descolamento da placenta. Mas não se pode perder de vista que é procedimento cirúrgico, com riscos inerentes a ele, maiores do que nos partos normais. Especialistas alertam ainda que cesáreas feitas sem critérios podem trazer complicações desnecessárias à mãe e aos bebês.
Destaque-se ainda que a taxa recomendada pela OMS, que varia de 10% a 15%, foi estabelecida há quatro décadas, mas reforçada há cinco anos. Isso significa que, mesmo com as mudanças e avanços na medicina, a entidade, que é referência mundial na saúde, continua entendendo que as cesáreas só devem ser feitas em casos de complicações obstétricas.
O problema envolve aspectos de saúde pública, já que, além dos riscos e inconvenientes do excesso de cesáreas, devem ser levados em conta os gastos maiores com os procedimentos e internações, que afetam o SUS. Mas se trata principalmente de uma questão cultural, que precisa ser abordada por médicos, autoridades de saúde, e por toda a sociedade.
O esclarecimento e a informação são absolutamente fundamentais. Devem ser quebrados estigmas e preconceitos que as dores do parto normal são as piores do mundo, e que as cesáreas são a solução natural e necessária para todos os nascimentos. Trabalho junto às gestantes e famílias durante o pré-natal pode ajudar nesse sentido, e deve mobilizar os profissionais da área, que precisam estar preparados e atuar para a redução das cesáreas.