Os discursos de Lula

Discursos desastrados servem para mostrar fraquezas e vulnerabilidades dos candidatos em uma corrida eleitoral

Por: Redação  -  06/05/22  -  06:34
  Foto: Agência Senado

Lula anda falando demais e se perdendo nos discursos, em um movimento que ora confunde seu eleitor mais fanático, ora deixa com dúvidas quem ainda não se decidiu pelo voto. A julgar pelo alto índice de eleitores que ainda não declinou em qual candidato vai votar em outubro, ele corre risco de não só perder os votos que já estão certos, como não conseguir extrair novos adeptos dessa alta porcentagem de indecisos (cerca de 42%, segundo as pesquisas mais recentes).


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No mês passado, disse ser contra a volta do imposto sindical, mas defendeu que seja aprovada uma lei para que os trabalhadores e as assembleias das entidades decidam conjuntamente qual é a contribuição que cada filiado deve pagar. Na prática, nada de novo sobre a proposta que as próprias entidades já haviam defendido desde que a obrigatoriedade do tributo caiu, em 2017, com a reforma trabalhista. Não obstante a necessária existência dos sindicatos para equilibrar as forças na relação com o capital, nada justifica a obrigatoriedade de uma contribuição por parte do trabalhador. Esta deve ser espontânea, voluntária e em sintonia com a crença no trabalho desenvolvido pela entidade. Qualquer proposta fora desse conceito parece um retrocesso.


Outra fala desastrosa ocorreu sábado passado, durante discurso na Brasilândia, zona norte de São Paulo. No meio do discurso, o petista soltou que o presidente Bolsonaro “não gosta de gente, ele gosta de policial”. As reações foram imediatas, de várias alas dos partidos de oposição, e também de apoiadores do pré-candidato, que enxergaram na fala um misto de preconceito e leitura enviesada sobre as corporações. Depois, tentou se desculpar, afirmando que, em lugar de “polícia”, queria ter dito “milícia’, mas a asnice já havia sido cometida.


Mais recentemente, a surpresa retórica veio em nível internacional. Capa da revista americana Time desta semana, o ex-presidente expõe em entrevista o que pensa sobre o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky. “Esse cara (Zelensky) é tão responsável quanto o Putin, porque numa guerra não tem apenas um culpado. Ele fica se achando o rei da cocada, quando na verdade deveriam ter tido conversa mais séria com ele”.


Diante de uma guerra que já dura quase três meses, com saldo de mais de 1.200 civis mortos, além de milhares de militares, o que se espera de um postulante ao cargo mais alto de uma nação é uma fala de acolhimento e empatia com as famílias vitimizadas de ambos os países - muitas, inclusive, vivendo no Brasil.


Discursos desastrados servem para mostrar fraquezas e vulnerabilidades dos candidatos. E quanto eles conseguem ter de equilíbrio diante das pressões, da proximidade com o 2 de outubro e o desempenho nas pesquisas. A julgar pela concentração de derrapadas em curto espaço de tempo, pode-se imaginar como serão os próximos cinco meses de campanha.


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