Os custos da economia nas alturas
Mesmo que a inflação perca fôlego, é esperado que os custos da economia permaneçam em níveis elevados
O principal impacto econômico da covid-19 é um desarranjo entre as cadeias de produção e serviços, impondo atrasos e aumento de custos difíceis de serem resolvidos. Os casos mais claros são os dos componentes semicondutores, usados na indústria eletroeletrônica e nos automóveis, e a valorização exagerada das commodities, produtos minerais e agrícolas, como petróleo e soja.
Mas o frete marítimo também merece atenção. Conforme reportagem publicada ontem por A Tribuna, o contêiner de 40 pés para importação entre Ásia e Brasil sobe desde maio e retomou os níveis do segundo semestre do ano passado, considerado o auge da crise logística global iniciada com a pandemia em 2020.
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) aponta essa alta como fator decisivo para o encarecimento do custo de produção do setor, acreditando que o frete marítimo não tende a recuar e que o atual patamar seria o novo normal das despesas com logística.
Com esse relato da CNI, fica difícil esperar uma queda da inflação mais acentuada, por exemplo, por meio da redução de impostos no Brasil e em outros países. Entretanto, não é apenas a logística que força a alta dos custos. A energia e as matérias-primas subiram, os sindicatos devem pressionar por mais reajustes salariais devido à inflação e há uma expectativa para os próximos anos, de quando os governos tentarão subirão os tributos para retomarem suas receitas.
Portanto, são diversos nós difíceis de serem desatados, o que induz à expectativa de uma era de baixo crescimento, pois os bancos centrais manterão os juros elevados enquanto houver inflação.
Essa receita o Brasil já conhece e basta retomar a história econômica do País a partir dos anos 1970. Era uma época de acentuado crescimento, encerrado pelos choques do petróleo e subida dos juros pelos EUA contra a inflação, com o Brasil investindo em planos econômicos desde os anos sem sucesso, até acertar com o real. Desde então, o País não fez reformas nem cresceu como os outros emergentes e agora amarga esse enrosco econômico da covid-19 com uma emaranhado de custos não resolvido.
O petróleo passou por queda de quase 20%, em um mês, se considerada a cotação do último dia 13, com o barril tipo Brent a US$ 99, mas ontem ele já estava em US$ 106, após a expectativa de que a China esteja perto de encerrar seus lockdowns.
Porém, se o banco central americano subir os juros no fim do mês, sendo acompanhado pelo BC da Inglaterra e até do Brasil, haverá mais certeza de uma recessão mundial e a commodity poderá recuar.
A queda do barril no exterior é importante para combater a inflação do Brasil.
Até a eleição, dificilmente o preço dos combustíveis subirá, mas se continuar a pressão externa e o dólar se valorizar até outubro, em algum momento será necessário fazer reajustes. Por isso, mesmo que a inflação perca fôlego, é esperado que os custos permaneçam em níveis elevados.