Os brigões se entendem
O que se teme é que o governo opte pelo caminho fácil da irresponsabilidade
A troca de pedidos de desculpas entre o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e o ministro da Economia, Paulo Guedes, em reunião em Brasília na segunda-feira traz grande alívio. O entendimento entre dois defensores da austeridade nas contas públicas, apesar de pouco afeitos no trato de um com o outro, é importante não só para a retomada da agenda de reformas, fundamental para a estabilidade do País, como para conter o ímpeto da ala desenvolvimentista que cerca o presidente Jair Bolsonaro. Grupo esse que defende ideias e fórmulas antigas já desgastadas, devidamente experimentadas e que por várias vezes corroeram as finanças da República.
Os dois lados passam por momentos de grande tensão que podem explicar as mais recentes colisões. Maia busca uma brecha para tentar a reeleição para a Presidência da Câmara, uma pretensão que ele não admite totalmente, mas que para isso precisa se manter forte para sobreviver ao grupo de sustentação bolsonarista que vai tentar comandar a casa. É um jogo de xadrez delicado, de bastidores, e nada previsível.
Do lado de Guedes, paira a sombra do ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, estratégico para Bolsonaro crescer nos redutos petistas do Nordeste. Marinho personaliza o político habilidoso moldado no Congresso que dança conforme a música. Economista, apoiou o projeto do teto de gastos (o governo não pode gastar em um ano mais do que as despesas do ano anterior corrigidas pela inflação) em plenário em 2016 e há poucos dias, curiosamente, foi acusado por Guedes de ser fura-teto. Neste contexto de brigas, o ministro acusou Maia de travar as privatizações, com o deputado rebatendo rispidamente que Guedes está “desequilibrado”. Maia, entretanto, já tinha culpado Guedes de paralisar a reforma tributária, um tema importantíssimo, mas ainda sem um projeto robusto para ir a plenário. União, estados, municípios, segmentos econômicos e outros setores da sociedade se recusam a abrir mão de suas vantagens tributárias e a classe política não consegue o consenso.
No meio dessa confusão toda, surge o protagonismo do Renda Cidadã, projeto que desafia a equipe econômica. É visto pelo presidente como seu passaporte para a vitória certa em 2022. Porém, há o teto de gastos atrapalhando e a sombra de uma crise, via desemprego, assim que o auxílio emergencial se exaurir.
O que se teme é que o governo opte pelo caminho fácil da irresponsabilidade fiscal. O mercado financeiro já vislumbrou tal risco e os investidores mais ávidos tentam impor juros mais altos para comprar títulos federais. Uma gestão paralisada pelo descontrole é a leitura que os agentes econômicos fizeram agora. Fica a expectativa de que a pacificação entre Guedes e Maia garanta a correção dos rumos econômicos pelos meios civilizados. E ela passa prioritariamente pelas reformas.