Os brigões se entendem

O que se teme é que o governo opte pelo caminho fácil da irresponsabilidade

Por: Da Redação  -  07/10/20  -  11:14

A troca de pedidos de desculpas entre o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e o ministro da Economia, Paulo Guedes, em reunião em Brasília na segunda-feira traz grande alívio. O entendimento entre dois defensores da austeridade nas contas públicas, apesar de pouco afeitos no trato de um com o outro, é importante não só para a retomada da agenda de reformas, fundamental para a estabilidade do País, como para conter o ímpeto da ala desenvolvimentista que cerca o presidente Jair Bolsonaro. Grupo esse que defende ideias e fórmulas antigas já desgastadas, devidamente experimentadas e que por várias vezes corroeram as finanças da República.


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Os dois lados passam por momentos de grande tensão que podem explicar as mais recentes colisões. Maia busca uma brecha para tentar a reeleição para a Presidência da Câmara, uma pretensão que ele não admite totalmente, mas que para isso precisa se manter forte para sobreviver ao grupo de sustentação bolsonarista que vai tentar comandar a casa. É um jogo de xadrez delicado, de bastidores, e nada previsível.


Do lado de Guedes, paira a sombra do ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, estratégico para Bolsonaro crescer nos redutos petistas do Nordeste. Marinho personaliza o político habilidoso moldado no Congresso que dança conforme a música. Economista, apoiou o projeto do teto de gastos (o governo não pode gastar em um ano mais do que as despesas do ano anterior corrigidas pela inflação) em plenário em 2016 e há poucos dias, curiosamente, foi acusado por Guedes de ser fura-teto. Neste contexto de brigas, o ministro acusou Maia de travar as privatizações, com o deputado rebatendo rispidamente que Guedes está “desequilibrado”. Maia, entretanto, já tinha culpado Guedes de paralisar a reforma tributária, um tema importantíssimo, mas ainda sem um projeto robusto para ir a plenário. União, estados, municípios, segmentos econômicos e outros setores da sociedade se recusam a abrir mão de suas vantagens tributárias e a classe política não consegue o consenso. 


No meio dessa confusão toda, surge o protagonismo do Renda Cidadã, projeto que desafia a equipe econômica. É visto pelo presidente como seu passaporte para a vitória certa em 2022. Porém, há o teto de gastos atrapalhando e a sombra de uma crise, via desemprego, assim que o auxílio emergencial se exaurir.


O que se teme é que o governo opte pelo caminho fácil da irresponsabilidade fiscal. O mercado financeiro já vislumbrou tal risco e os investidores mais ávidos tentam impor juros mais altos para comprar títulos federais. Uma gestão paralisada pelo descontrole é a leitura que os agentes econômicos fizeram agora. Fica a expectativa de que a pacificação entre Guedes e Maia garanta a correção dos rumos econômicos pelos meios civilizados. E ela passa prioritariamente pelas reformas.


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