Operações letais no Rio de Janeiro são banalizadas

Não se trata de defender bandido, mas de cobrar resultados mais eficientes e com efeitos de longo prazo

Por: Redação  -  24/07/22  -  06:32
Operações policiais com dezenas de vítimas têm sido constantes no Rio de Janeiro
Operações policiais com dezenas de vítimas têm sido constantes no Rio de Janeiro   Foto: Divulgação

Com a operação das polícias Civil e Militar no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, na quinta-feira, foram mais 18 mortos, sendo que 15 teriam envolvimento com o tráfico, segundo as autoridades. O alto comando alegou necessidade de combater quadrilhas de roubo a banco e de cargas e veículos baseadas naquela região, com apreensão de uma metralhadora capaz de derrubar helicóptero, quatro fuzis e duas pistolas. Os dados causam a sensação de que se está em uma zona de guerra do Oriente Médio ou leste africano, mas se trata da segunda metrópole do País e referência cultural e turística do Brasil no mundo.


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Não se trata de defender bandido, mas de cobrar resultados mais eficientes e com efeitos de longo prazo para a sociedade. Deve-se perguntar ainda se uma ação violenta dessa é o suficiente para recolher armas e desarticular bandos ou se é mais para dar uma resposta à sociedade, ainda mais agora, próximo de eleições.



Aliás, chamou a atenção o fato do governador Cláudio Castro (PL), candidato à reeleição, ter lamentado, na quinta (21), apenas a morte do PM Bruno de Paula Costa. No dia seguinte, cobrado por seu silêncio em relação a Letícia Sales, de 50 anos, inocente morta por bala perdida, ele finalmente se manifestou (na sexta (22), soube-se que outra moradora, Solange Mendes, também foi baleada).


Seria mais um chocante registro da epidemia da violência nas periferias, mas não se pode olhar essa tragédia de forma isolada. Nos últimos 14 meses, o Rio de Janeiro contou com três de quatro das operações mais letais de sua história, somando 71 óbitos – 28 em maio de 2021, 25 em maio último e 18 na quinta.


Se forem considerados os 11 maiores saldos de mortes desde julho de 1994, o total chega a 185, pulando a 208 se incluída uma ação fora da capital, em Duque de Caxias em 1998, conforme o Grupo de Estudos de Novos Ilegalismo (Geni) da Universidade Federal Fluminense (UFF). Com Vigário Geral em 1993, a constatação é de que essas operações viraram política de Estado no Rio de Janeiro.


Após três décadas, a conclusão é de que essas ações de alta letalidade não surtiram o efeito de barrar a criminalidade. Muito pelo contrário, a bandidagem se espalhou pelas periferias, não só no Rio de Janeiro, se adaptou às mudanças de costumes e ao uso da tecnologia e dominou territórios. Se de um lado criminosos morreram no confronto, conforme alega a polícia, de outro muitos inocentes perderam a vida – e isso é inadmissível.


Com casos recentes de violência de todo o tipo, como o do homem sufocado em uma viatura em Sergipe e do assassinato do petista no Paraná, registrados com celular e exibidos de forma nua e crua, as repercussões indicam o cansaço da sociedade com tanta agressividade e perda de vidas. A criminalidade precisa de um enfrentamento corajoso e incisivo, com planos que mirem o longo prazo para obter resultados duradouros e não operações esporádicas de alta letalidade.


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