O plano da crise da energia

O governo atua mais pelo lado da tarifa para reduzir o consumo, encarecendo o sistema de bandeiras

Por: Redação  -  28/08/21  -  07:54
  Foto: Divulgação/Caio Coronel

A falta de chuvas, associada à reabertura da economia e à aproximação do calor, é uma péssima combinação em um País que tem mais de 60% de sua matriz energética concentrada em usinas hidrelétricas. A relação piora se for considerado que o gestor da crise hídrica, o governo, descarta de forma contundente a possibilidade de decretar racionamento. Da parte da União, é preciso admitir essa possibilidade, ainda que não vá decretá-la de imediato, pois se está perto do período da subida das temperaturas e de alguma retomada dos negócios, com forte aumento do consumo de energia. Uma posição do governo mais clara seria uma forma das famílias se adaptarem a algum plano de economia ou as empresas adotarem um planejamento de uso consciente.


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O mais preocupante é que os especialistas em clima alertam que, desde maio, choveu abaixo até da pequena quantidade esperada para a época e que, para os próximos meses, a recuperação hídrica será lenta. Portanto, se a situação se deteriorar, haverá coragem para impor medidas mais duras? Em caso positivo, elas seriam tomadas a tempo? Frente a essas questões, o Ministério das Minas e Energia deve atuar de forma bem transparente. Uma boa medida seria constituir uma espécie de conselho de crise aberto à sociedade, mas obviamente com a responsabilidade da parte executiva nas mãos da pasta.


Também é importante que o governo siga um mesmo discurso sobre a crise hídrica. Tanto o ministro Bento Albuquerque como o presidente Jair Bolsonaro já pediram à população e às empresas para que economizem energia. Porém, o chefe do Palácio do Planalto foi mais veemente no aspecto negativo, alertando que algumas represas vão deixar de existir se a seca não der uma trégua e que até as hidrelétricas poderão parar de funcionar.


Uma gestão da crise de forma clara e precisa é a melhor forma para orientar a sociedade. Se o eventual anúncio de racionamento vai inibir os investimentos e retardar a retomada da economia, a interrupção sem aviso do fornecimento de energia causará muitos mais prejuízos, inclusive, riscos de acidentes.


Segundo estudo do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) de julho, citado pelo ex-diretor da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) Edvaldo Santana em artigo no jornal O Estado de S. Paulo, a previsão para outubro era uma sobra de 3 mil MW no País, mas agora a perspectiva para o mesmo mês é de falta de 9 mil MW, deixando vulnerável o pico de consumo das 17 às 20 horas. “É essencial reduzir o consumo em proporções gigantescas”, alertou ele.


Como o governo atua mais pelo lado da tarifa para reduzir o consumo, encarecendo o sistema de bandeiras, ainda que este dê certo e imponha economia, ficarão para as famílias e as empresas custos mais elevados para o próximo ano. Conforme Santana, além do risco energético, haverá ainda mais esse problema, tirando recursos que iriam para outros setores do País.


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