O otimismo da indústria

Há um excedente de poupança das famílias formado no isolamento social que pode impulsionar o consumo

Por: Redação  -  26/05/21  -  07:03
Atualizado em 26/05/21 - 09:20
 Cenário da indústria é visto com grande otimismo
Cenário da indústria é visto com grande otimismo   Foto: Vanessa Rodrigues/AT

O otimismo que representantes da indústria têm neste momento imprevisível da economia é reflexo do desempenho de alguns de seus setores na pandemia, que reagiram bem, e pelo efeito da alta do dólar nas exportações, desestimulando as importações ao mesmo tempo. Em entrevista a A Tribuna na edição de terça-feira (25), o diretor estratégico da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), André Ribeiro, disse esperar que o setor cresça 4% neste ano e 3% em 2022. Mas ele fez uma ressalva, de que esse cenário vai depender da aprovação das reformas tributária e administrativa, em discussão há um bom tempo no Congresso. Porém, fica a dúvida do comportamento do câmbio. Desde o final dos anos 1990, a indústria não tem conseguido competir com o concorrente externo sem a vantagem cambial. Se o dólar cair com força, perto de R$ 4,70 (hoje está por volta de R$ 5,30), os importados começam a ficar mais atraentes.


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A grande questão é que a indústria entra em desvantagem quando outros quesitos são comparados com os dos produtores internacionais, levando ao custo brasileiro mais alto que anula qualquer eficiência local. Os mais importantes são a carga tributária elevada e seu sistema caótico com impostos em cascata, um estado pesado ineficiente que depende desses muitos tributos para se sustentar, redes de transportes defasadas e sem investimentos, corrupção e mão de obra sem qualificação e com o custo inflado por tributos. Sobre estes pontos, o ministro da economia, Paulo Guedes, já dizia desde a campanha que agiria com prioridade, mas até agora pouco realizou a respeito.


Realmente, há um excedente de poupança das famílias formado no isolamento social que pode impulsionar o consumo, mas esse ímpeto segue contido pelo desemprego. A falta de vagas tem um efeito nocivo em uma espécie de ciclo vicioso. Ao mesmo tempo em que mantém as vendas em baixa devido ao sumiço da renda, leva quem está empregado a temer pelo pior, adiando demandas. Frente a isso, os sinais precisam ser bem contundentes, a começar pela vacinação, que hoje emperrada. Ainda não se sabe, por exemplo, se a população estará imunizada suficientemente em meados do próximo semestre a ponto dos negócios fluírem em todos os setores, principalmente comércio e turismo, a partir de dezembro.


O próprio contexto de disputa acirrada em uma campanha eleitoral antecipada, com a expectativa de que ela será muito mais tensa que as anteriores, dificulta um ambiente de estabilidade. As pesquisas indicam que o governo perdeu popularidade, o que pode refletir no apoio de seus aliados pragmáticos reunidos no Centrão, ainda não se conhece as bases do lulismo e até se haverá uma terceira via competitiva favorável ao desenvolvimento industrial. Os fundamentos da recuperação do setor são bem frágeis e não deve se iludir por alguma ação mais pontual por suas causas. Torce-se pelo menos que sua retomada seja a mais forte possível.


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