O deficit não é só habitacional

Soluções e caminhos podem surgir aqui ou em outras partes do mundo e serem adaptadas e compartilhadas

Por: Redação  -  28/02/22  -  06:24
Problemas da habitação regional
Problemas da habitação regional   Foto: Flavio Hopp/AT

Reportagem publicada ontem por este jornal evidencia, em números, o tamanho do desafio que é equacionar a questão da habitação popular na Baixada Santista. Dados extraídos de fontes oficiais evidenciam o crescimento dos núcleos irregulares, assentamentos desconformes e invasões de terras na região: 6,1% ao ano, percentual maior do que o de qualquer metrópole no planeta. É bem verdade que esse não é um cenário exclusivo da Baixada Santista, mas de todo o País, o que traz à discussão o fato de que soluções e caminhos podem surgir aqui ou em outras partes do mundo e serem adaptadas e compartilhadas.


Clique, assine A Tribuna por apenas R$ 1,90 e ganhe centenas de benefícios!


Pelos dados evidenciados na reportagem, já são quase 470 mil pessoas vivendo nesses núcleos, onde as condições sanitárias são inadequadas, não há coleta ou tratamento de esgoto e existem riscos ambientais e geológicos. Uma análise mais detalhada coloca luz sobre outras questões correlacionadas: a existência do crime organizado, os gastos com saúde para tratar doenças recorrentes e prevalentes, o descontrole do uso de recursos naturais como a água.


Diferentemente de décadas atrás, quando não havia ferramentas tecnológicas para acompanhar e monitorar esses assentamentos, hoje já se tem farto material, quase em tempo real. É possível, por exemplo, precisar quantos são os barracos surgidos ou ampliados ano após ano, e estimar a população que cresce à margem das cidades. Também há condição de saber qual é a perda de água em ligações irregulares e qual o impacto na geração de esgoto e quanto esse esgoto não tratado compromete lençóis freáticos e cursos de água.


As autoridades são claras em afirmar que não há condição de fiscalizar o dia a dia desse crescimento. Não há efetivo humano para percorrer cada um dos núcleos irregulares, o que faz com que novas habitações surjam do dia para a noite. Além disso, há entraves judiciários que impedem a retirada de famílias quando já instaladas nesses locais. Áreas particulares têm tratamento e legislações diferentes, e há, ainda, uma questão maior e mais sensível: retirar famílias carentes de núcleos vulneráveis implica em ter para onde levá-las, e a produção habitacional não dá conta de acolher todo esse contingente que existe nos municípios.


Todas essas questões colocam sobre a mesa a certeza de que não será apenas a construção de conjuntos habitacionais a solução definitiva para o problema, que tem sua raiz na desigualdade social e também na existência de um mercado paralelo que fomenta a perenidade desse quadro, muitas vezes estimulado até mesmo por políticos e demais autoridades.


É preciso colocar a temática na ordem das prioridades do Estado, não de forma oportunista em anos eleitorais, mas como meta e compromisso de toda a sociedade. Há bons exemplos de soluções que foram eficientes aqui mesmo na Baixada Santista. Sempre é tempo de começar uma agenda propositiva.


Este artigo é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a linha editorial e ideológica do Grupo Tribuna. As empresas que formam o Grupo Tribuna não se responsabilizam e nem podem ser responsabilizadas pelos artigos publicados neste espaço.
Ver todos os colunistas
Logo A Tribuna