O Brasil na tensão Estados Unidos x China

Em caso de conflito entre as duas potências, o País pode se ver obrigado a tomar partido

Por: Redação  -  30/07/22  -  07:24
Itamaraty: tradição diplomática do Brasil de se manter neutro pode ser contestada por um dos lados
Itamaraty: tradição diplomática do Brasil de se manter neutro pode ser contestada por um dos lados   Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil

Não é a primeira vez que os Estados Unidos foram desafiados ou mesmo ameaçados pelo mandatário de algum país, mas o alerta do presidente chinês Xi Jinping de que os americanos “brincam com fogo” em relação a Taiwan mostra que o país asiático está decidido de exercer seu papel de potência na nova ordem mundial.


O relacionamento entre os dois gigantes não interessa ao Brasil apenas pelo aspecto geopolítico, mas também por ambos deterem por volta da metade do comércio exterior brasileiro. Em caso de conflito extremo ou eventuais divergências entre as duas partes, o Brasil poderá ser instado a tomar partido e talvez sua tradição diplomática de se manter neutro possa ser contestada por um dos lados.


No caso de Taiwan, que tem uma população equivalente à de Minas gerais e área inferior à do estado do Rio de Janeiro, a China considera a ilha sua província rebelde, a parte que se desprendeu da nação chinesa na guerra civil de 1949. Mesmo pequeno, Taiwan é hoje a 22a maior economia do mundo, segundo o ranking do Fundo Monetário Internacional (FMI), com PIB que é a metade do brasileiro e à frente dos da Suécia, Bélgica e Argentina.


O país é líder mundial incontestável dos semicondutores, com 80% da produção. Esse domínio é visto pelos americanos como risco tecnológico, ainda mais sob possível ocupação chinesa. Essa dependência mundial de chips da ilha ficou evidente na pandemia, com a interrupção da produção e problemas de abastecimento que perduram até hoje no setor automobilístico, inclusive o brasileiro.


Com a possibilidade de guerra com a China, Taiwan investe pesado nas forças armadas e mais recentemente expandiu os gastos com mísseis e drones, ficando em 21o no ranking de gastos militares da Trading Economics. O poderio chinês é incomparável, sendo 21 vezes o de Taiwan, mas o gigantismo de uma potência não é garantia de domínio rápido, como indica a invasão da Ucrânia pela Rússia.


Entretanto conflitos distantes podem causar grande impacto no Brasil, como no caso da Ucrânia, fornecedora de insumos de fertilizantes e trigo, com reflexos em várias cadeias econômicas devido ao embargo à Rússia. Os EUA já se comprometeram a apoiar Taiwan em caso de invasão. Esse duelo é uma possibilidade, tanto que em abril do ano passado, a revista The Economist considerou a ilha o “lugar mais perigoso do mundo” devido ao risco de ataque chinês e a presidente taiwanesa Tsai Ing-wen respondeu que o país desenvolveu uma barreira de segurança tanto militar como de suprimentos.


Os elos do Brasil com a China são muito maiores do que com Rússia e Ucrânia, não só vendendo commodities, mas adquirindo equipamentos e peças para complementar a indústria brasileira. Porém, o Brasil precisa estar sempre a postos para saber se posicionar em situações de grande tensão externa, que aparentemente aumentaram nos últimos meses em vários frentes.


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