O Brasil na cúpula do clima

O que os negociadores americanos querem são planos pragmáticos que evitem a destruição da mata

Por: Redação  -  21/04/21  -  07:11
  Foto: Pixabay

Em seu último dia como superintendente da Polícia Federal do Amazonas, o delegado Alexandre Saraiva comandou uma operação contra fazendeiros no sul do Amazonas suspeitos de desmatamento. Também ontem os servidores do Ibama divulgaram uma carta em protesto contra mudanças adotadas pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, que, segundo eles, inviabilizou as emissões de multas pelo órgão. Com esses exemplos só nesta semana fica difícil entender com que credibilidade Salles vai assessorar o presidente Jair Bolsonaro na Cúpula de Líderes sobre o Clima. O encontro será realizado amanhã e sexta-feira pelos Estados Unidos, sendo considerado pela Casa Branca como um dos marcos da volta do país à diplomacia internacional e para mostrar o foco do Governo Joe Biden na sustentabilidade ambiental.


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O governo brasileiro participa dessa cúpula em um momento de extrema fragilidade da gestão de Jair Bolsonaro. Isolado em duas complexas negociações políticas, a da CPI da Covid e do Orçamento de 2021, o presidente vai ao encontro com o pedido de recursos de US$ 1 bilhão defendido por Salles para reduzir o desmatamento em 40%. Esse ideia já chega enfraquecida pela posição americana de que até 2012 o Brasil conseguiu por conta própria conter as queimadas. Além disso, pedir recursos externos não tem muito sentido por parte do ministro, que cuja gestão houve a suspensão do Fundo Amazônia, da Noruega e Alemanha, que em dez anos injetou mais de R$ 3 bilhões no Brasil. Ou ainda os US$ 97 milhões cedidos no início de 2019 pelo Fundo Verde do Clima que ainda não foram utilizados, segundo a Agência Rubrica em reportagem da revista Piauí.


Para piorar a posição do Brasil, Biden enfrenta a pressão de senadores democratas, entre eles Bernie Sanders e Elizabeth Warren, também segundo a Piauí, que não querem o governo americano colaborando com Bolsonaro, conhecido aliado do trumpismo.


A cúpula deverá contar com uma carta de compromissos, partindo para uma negociação mais prática tocada por diplomatas e acompanhada pelos organismos ambientais militantes e institucionais. Entretanto, o discurso brasileiro vai ser fundamental para marcar a posição do País. Não haverá espaço para a retórica presidencial anterior de que o Brasil é o que mais preservou sua mata e que os países ricos devastaram a deles, entre outros pontos sem efeitos práticos. O que os negociadores americanos buscam são planos pragmáticos que evitem a destruição da mata. Já o Brasil tem que ser firme, mas caminhar razoavelmente para o consenso da preservação da Amazônia. Com esse compromisso, o Brasil poderá conquistar concessões, inclusive do colossal pacote de investimentos em energia limpa que será aplicado internamente nos EUA. Porém, com Salles na fritura em várias frentes, da oposição e interna, resta saber se o governo terá o melhor plano a propor.


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