O Brasil está vulnerável

A economia tentará se recuperar em uma espécie de campo todo minado: crédito caro, desemprego e queda de arrecadação

Por: Redação  -  17/12/21  -  06:47
  Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil

Assim como o Banco Central brasileiro, o Federal Reserve (Fed), o equivalente americano do BC, também tenta cercar a inflação. A grande diferença é que os Estados Unidos, por sua incrível capacidade de atração de capitais, conseguem postergar medidas duras por mais tempo. A subida dos preços é um fenômeno mundial, reflexo da injeção de recursos públicos para evitar uma recessão monumental.


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Além disso, as indústrias estão com suas cadeias de produção atrasadas devido às interrupções provocadas pelas medidas sanitárias, o que também aumentou os custos das mercadorias. No caso dos emergentes, incluindo o Brasil, como são considerados economias mais arriscadas e, por isso, precisam remuneram mais os investidores para atraí-los, poderão sofrer muito mais se os juros subirem no exterior. Na visão dos grandes fundos, não compensa deixar dinheiro em um país arriscado se é possível ganhar um pouco mais com papéis americanos, considerados os mais seguros.


E é nesta hora que o Brasil poderá pagar caro por manter as contas desordenadas. Se de um lado o Banco Central quase quintuplicou os juros em um ano (de 2% em janeiro para 9,25% agora), uma forma de enxugar recursos da economia para derrubar a inflação, do outro o governo mantém os gastos em ritmo acelerado. O uso de recursos públicos para garantir uma reeleição não é novidade, mas no contexto atual a austeridade faria todo o sentido.


Os EUA já têm uma inflação de quase 10% no atacado e os integrantes do Fed acreditam que os juros americanos terão que subir em três ocasiões no próximo ano. Neste caso, afirmam economistas, as taxas também devem aumentar no Brasil para tentar segurar a fuga de estrangeiros, o dólar vai se valorizar devido ao real enfraquecido e a bolsa pode perder muitos capitais.


Assim, a economia brasileira tentará se recuperar em uma espécie de campo todo minado. De um lado, o crédito mais caro desestimularia investimento e consumo e, do outro, com estagnação econômica e recessão, o desemprego demoraria mais a cair e o governo arrecadaria menos.


O quadro que se tem neste momento é de uma redução da pressão sobre os combustíveis após a queda do petróleo e uma calmaria nos preços dos alimentos. Até porque a taxa Selic já está acima de 5% desde agosto, estimulando uma fuga de recursos para a renda fixa, e a própria economia, enfraquecida, não tem motivo para remarcar mercadorias e serviços. Entretanto, o Banco Central já anunciou que não vai desistir de manter os juros elevados, mesmo que isso gere retração na economia, até que a inflação se mostre debelada.


Infelizmente a incerteza vai continuar fulminando a economia, pois esse fator está ligado ao exterior, como é o caso da eventual subida dos juros nos EUA e nas outras potências com inflação, como a Alemanha. Ou ainda com nova valorização das commodities (produtos minerais e alimentícios) se o PIB mundial voltar a engrenar.


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